Antônio Rocha
Correio Braziliense
Empresário, é presidente do Sistema Fibra (Federação das Indústrias do Distrito Federal)
As dúvidas sobre o comportamento da economia brasileira continuam. O ministro Guido Mantega anunciou, nos últimos dias, uma série de novas medidas para conter a alta desenfreada do real frente ao dólar. A principal delas é a cobrança de 1% de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre operações com derivativos, contratos feitos no mercado futuro. A Medida Provisória 539 dá liberdade ao governo de aumentar essa alíquota em até 25%. Tal medida tem impacto maior sobre o mercado financeiro e não se reflete diretamente no bolso do brasileiro. Mas o sinal de alerta está aceso. O Banco Central já decidiu pelo quinto aumento consecutivo da taxa básica de juros, elevando-a para 12,50% ao ano.
Na prática, a taxa de juros nada mais é do que o instrumento utilizado pelo BC para manter a inflação sob controle ou para estimular a economia. Se os juros caem muito, a população tem maior acesso ao crédito e consome mais. Isso deveria ter uma avaliação positiva, mas a aceleração da economia eleva os preços e ocasiona inflação. Por essa razão, as autoridades monetárias optam por vir aumentando a Selic de forma crescente.
O aumento dos juros encarece o crédito e diminui o consumo. A indústria não entende nessa política um benefício para o setor produtivo. Entendemos, sim, que o governo precisa adotar imediatamente medidas que amenizem os efeitos do aumento dos juros sobre a competitividade das empresas. Essa decisão do Copom faz com que o Brasil continue na liderança do ranking dos países com maiores juros reais do planeta. Estamos no topo desde janeiro de 2010. Assim, atraímos capital externo, o que intensifica a forte valorização do real diante do dólar. Na prática, nossos produtos perdem espaço em detrimento dos estrangeiros.
O economista Mailson da Nóbrega esteve recentemente na Fibra conversando com empresários do DF e nos tranquilizou sobre o risco quase nulo de que grande inflação derrube a economia brasileira justamente pelo fato de que o Banco Central esteja aumentando a Selic. Não queremos uma inflação desenfreada, mas também não podemos retroceder no aquecimento do consumo. É uma lógica difícil de ser compreendida, mas existem mecanismos técnicos e políticos que trazem essa solução. Levantamos a bandeira do consumidor brasileiro, que hoje possui uma classe C como maior fatia do bolo. Uma sociedade com mais poder de compra é uma conquista pela qual iremos sempre lutar. Defendemos, sim, a inclusão de medidas efetivas de desoneração tributária na nova fase da política industrial. Indústria e comércio fortes são sinais de desenvolvimento.
Nossa esperança no governo é sempre positiva. Esperamos que a nova política industrial seja desenhada em cima de medidas que evitem a desindustrialização do país. A expectativa em relação ao conteúdo do plano para a indústria brasileira é grande. Já ouvi rumores de que a presidente Dilma possa promover desoneração superior a R$ 45 bilhões em quatro anos, entre 2012 e 2015, atingindo, sobretudo, as exportações. O que nós desejamos é que o foco seja a manutenção do crescimento e do desenvolvimento do país.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) apresentou ao governo propostas formuladas em conjunto com as federações e associações empresariais para a nova política industrial. Sugerimos desoneração dos investimentos e das exportações, medidas de defesa comercial e de controle das importações, criação de mecanismos de incentivo à compra de produtos nacionais, o estabelecimento de um índice de conteúdo local e novos financiamentos e incentivos para a inovação tecnológica, para dar mais competitividade às empresas.
Temos que aumentar a competitividade da indústria e evitar a desindustrialização do país. Esse processo precisa ser desacelerado, pois a participação da indústria no PIB nacional diminui a olhos vistos. Entre 59 países, o Brasil foi rebaixado para a 44ª posição no ranking da competitividade global. No DF, os efeitos já estão sendo sentidos pelos empresários. Segundo indicadores de confiança divulgados pela Fibra, o industrial da capital federal se mantém otimista em julho, mas em menor escala ante junho deste ano e julho do ano passado. O ambiente se revela instável para a realização de negócios. O problema merece nossa reflexão. Vamos acompanhar de perto seus desdobramentos.
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