HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP
SÃO PAULO - Ali, meio que perdido entre os bons números que o IBGE divulgou na semana passada, mostrando uma significativa redução do analfabetismo no Brasil, desponta um dado perturbador: 6,52% das crianças com dez anos de idade não sabem ler nem escrever.
Essa cifra é inquietante porque, ao contrário do índice geral de analfabetismo, ela não diz respeito ao passado, mas ao presente e ao futuro.
O Censo 2010 apurou 9,6% de iletrados acima de 15 anos. Já entre os com 60 anos ou mais, essa taxa vai a 28%. Não aprenderam por falhas do sistema educacional de 50 anos atrás. É lamentável, mas é passado. Devemos oferecer a essas pessoas a oportunidade de alfabetizar-se, mas a maioria delas não se interessa e é difícil obter bons resultados.
Já os 6,52% de crianças de dez anos incapazes de ler representam o fracasso do sistema educacional de hoje. Apesar dos avanços em termos de universalização registrados nos últimos 20 anos, a escola está ensinando a ler muito tarde e muito mal.
Não haveria, em princípio, nenhum motivo para não obter taxas de analfabetismo inferiores a 1% nessa faixa etária, como ocorre em países do Primeiro Mundo. Em teoria, só crianças com algum problema neurológico grave não conseguiriam aprender a ler até os sete anos.
Para tornar o quadro um pouco mais sombrio, vale lembrar que os jovens que dominam mal a leitura têm grande probabilidade de tornarem-se maus alunos pelo restante de suas vidas acadêmicas.
Os dados até aqui divulgados pelo IBGE sugerem que esse problema do analfabetismo precoce está bem concentrado em alguns Estados do Nordeste -Alagoas tem 17,8%, e o Maranhão, 16,4%- e entre as camadas mais pobres. É o caso, portanto, de desenvolver programas específicos para essa população. Se nada for feito, é possível que, no remoto ano de 2081, o Brasil ainda não tenha conseguido erradicar o analfabetismo.
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