segunda-feira, 21 de novembro de 2011

JANELA DEMOGRÁFICA


EDITORIAL
FOLHA DE S. PAULO



Dados do Censo mostram que Brasil tem oportunidade histórica para se desenvolver, mas precisa correr, porque o tempo está encurtando

Pela primeira vez na história, estima-se que as mulheres no Brasil terão, em média, um número de filhos menor que o considerado necessário para repor a população durante a vida reprodutiva.
Os dados a respeito da taxa de fecundidade estão entre os que mais chamam a atenção nos primeiros resultados do Censo de 2010.
As informações sobre a evolução demográfica são ricas e impressionantes o suficiente para estimular providências imediatas com vistas a começar a adequar o país à nova realidade. Com efeito, a rápida mudança populacional expõe o risco de o Brasil "envelhecer antes de enriquecer", perdendo o melhor momento para atingir um nível de desenvolvimento econômico e social próximo à média dos países europeus.
Com o aumento da população aposentada ou idosa, elevam-se os custos privados e públicos da assistência e reduz-se um fator de produção, o trabalho.
A configuração populacional brasileira ainda não é essa -estamos, pelo contrário, num momento ótimo para acelerar o crescimento. Mas os dados do Censo indicam que vai encurtar o tempo disponível para isso. A população tende a estagnar por volta de 2040. O país despenderá, então, menos em novas escolas e infraestruturas voltadas ao atendimento da infância, mas terá de dedicar mais atenção a seus idosos, às aposentadorias pagas por mais tempo e à saúde.
É preciso, portanto, acelerar o passo para fazer bom proveito da situação demográfica favorável. E os problemas não são triviais. Um sexto dos jovens entre 15 e 17 anos, por exemplo, não está na escola. A velocidade da expansão da rede de água e esgoto diminuiu na década que passou. O número de mortes violentas de homens jovens, de 20 a 24 anos, é o quádruplo do registrado entre mulheres, indício de uma sociedade que desrespeita leis e normas civilizadas de convivência.
Esses indicadores evidenciam enorme custo humano e desperdício de recursos e de potencial de desenvolvimento. O próprio passivo de séculos de falta de instrução e civilidade representa um peso.
Na educação, conseguiu-se universalizar o acesso à escola elementar apenas em meados dos anos 1990. O progresso é visível no Censo, mas a melhoria da qualidade depende de outros fatores, como a educação dos pais e dos professores -que se formaram e cresceram num país de escassa educação.
Reverter esse quadro, em tempo de aproveitar a janela demográfica, exige acentuada disciplina, além de senso de urgência e prioridade. É possível fazê-lo: os sul-coreanos, por exemplo, tiveram sucesso na empreitada. Mas, para tanto, o Brasil precisa tomar decisões: poupar mais, gastar menos com aposentadorias, com serviços do Estado e com desvios e empenhar suas energias numa espécie de revolução educacional e sanitária.
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