quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Censo revela progressos e deficiências do país

Valor Econômico 

De cada 100 domicílios brasileiros, 33 não têm esgoto, mas 38 possuem computadores, 47 são equipados com máquinas de lavar e 95, a imensa maioria, têm televisores. Esse é o mais recente retrato das contradições da sociedade brasileira que emergiu do Censo de 2010, divulgado na semana passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O crescimento econômico dos últimos anos, a melhor distribuição de renda e os programas sociais turbinaram o consumo, mas não favoreceram necessariamente a qualidade de vida da população, quando se trata de condições básicas de infraestrutura, educação e saúde.

Esse é exatamente o caso das redes de esgoto, importantes não apenas pelo conforto proporcionado, mas principalmente por causa de suas implicações para a saúde pública. O Censo de 2010 apurou, porém, que o Brasil até regrediu nesse ponto. No país como um todo, o percentual de domicílios servidos por rede de esgoto ou fossa séptica pouco aumentou nos últimos dez anos, passando de 62,2% para 67,1%. Mesmo considerando um período mais longo, o avanço foi tímido pois, em 1991, 52,4% dos domicílios eram ligados a redes de esgoto. Na região Norte, houve até um recuo, e o número de domicílios com rede de esgoto diminuiu de 35,6% em 2000 para 32,5% no ano passado. Já na região Sudeste o percentual subiu no mesmo período de 82,3% para 86,5%.

Os cínicos dariam a velha justificativa: os políticos não gostam de gastar e fazer obras que não são visíveis, pois ficam embaixo do chão. O pior é que as descobertas do Censo de 2010 dão argumento a essa posição, pois outros serviços de infraestrutura avançaram nas cidades e nos campos. Em relação à distribuição de água, por exemplo, o percentual de domicílios atendidos subiu de 77,8% em 2000 para 82,9% em 2010, variando de 54,5% no Norte a 90,3% no Sudeste. Em distribuição de energia elétrica, nada menos do que 97,8% do total de domicílios brasileiros são atendidos.

Ironicamente, os brasileiros avançaram em equipamentos domésticos. Entre 2000 e 2010, o percentual de domicílios com computadores saltou de 10,6% para 38,3%; o de moradias com máquinas de lavar, de 32,9% para 47,2%; os equipados com televisores, de 87,2% para 95%; e com automóveis, de 32,7% para 39,5%.

O aumento do consumo é resultado da expansão da renda, proporcionada pelo crescimento econômico, educação e programas sociais como o Bolsa Família.

O Censo de 2010 constatou uma melhoria na distribuição de renda da população brasileira, evidenciada pelo índice de Gini, que varia de zero a 1, em que zero significa a perfeita igualdade e 1 a máxima desigualdade. De acordo com o IBGE, o índice de Gini da renda da população total (190,75 milhões de pessoas) ficou em 0,536, coeficiente melhor do que o de 0,597 de 2000 e do que o do pior momento da história brasileira, em 1990, quando atingiu 0,615. No entanto, ainda assim, o Brasil apenas caiu do oitavo para o nono lugar entre os países mais desiguais do mundo, de acordo com levantamento do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). O índice brasileiro é pior do que países como o Paraguai (0,52) e Lesoto (0,525). Deve-se levar em conta ainda que o índice de Gini só avalia a renda obtida com o trabalho, desconsiderando os ganhos do capital. O próprio Censo de 2010 apurou que os 10% dos domicílios com maior rendimento concentram 42,8% da renda total; e os 10% com menor rendimento, só levam 1,3% do total.

São vários os motivos da desigualdade de renda no país e um dos principais também está retratado no censo: a deficiência educacional. Para alguns especialistas, metade do crescimento da renda de uma pessoa vem da educação. O Censo 2010 apurou que o analfabetismo ainda é elevado no país. O número de analfabetos na população com 15 anos ou mais era de 13,9 milhões de pessoas em 2010, recuando de 13,6% para 9,6% da população total entre 2000 e 2010. O índice, porém, ainda é maior do que o do Zimbábue (8%), da Guiné Equatorial (7%) e do Panamá (6%). Regionalmente as diferenças são grandes. No Nordeste, o analfabetismo nessa faixa chega a 32,9% na área rural.

Os números do censo ressaltam que muitas das deficiências do país são antigas e que sua correção depende de muito esforço político.

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