Um breve e importante ensaio acerca das mudanças nas economias e sociedades que estão afetando todo o planeta.
Se formos organizados e pararmos de ter o Estado como Leviatã poderemos viajar no vagão da frente desse trem da História.
O único problema é que o ENEM e o apagão de mão-de-obra não nos deixa sonhar, ainda, com tal possibilidade.
Vale a pena ler e refletir.
Velhice
ALON FEUERWERKER
CORREIO BRAZILIENSE
A Europa, como os Estados Unidos, consome demais e produz de menos. Mas, diferente dos americanos, não tem um ambiente com liberdade econômica suficiente para relançar rapidamente a expansão capitalista
Uma crise econômica gravíssima que aumenta exponencialmente a taxa de desemprego deveria levar as pessoas a pedir mais proteção do Estado e, portanto, favorecer a esquerda.
Mas na Europa quem emerge na crise com poder político reforçado é a direita.
Mesmo na Itália, onde o tsunami econômico-financeiro derrubou o direitista Silvio Berlusconi, quem entrou no lugar foi um governo “técnico” comprometido com a austeridade.
Austeridade parece ser a palavra da moda na Europa. Da Grécia ao Reino Unido, da Itália à Espanha, os eleitores parecem inclinar-se agora para quem sempre defendeu menos Estado, não mais.
Há exceções, como a Dinamarca, mas são exceções.
Quando a primeira grande onda da crise engolfou o mundo desenvolvido, a linha imediata de defesa foi o Estado. Que se endividou e emitiu o suficiente para evitar a quebra das empresas, financeiras ou não, grandes demais para irem à breca.
Na primeira fila, o premiê britânico, Gordon Brown, a quem devemos muitos agradecimentos por o planeta não ter quebrado. Brown defendeu que os Estados oferecessem garantias ilimitadas para evitar que maus passivos causassem falências em cascata. O premiê, ele próprio ex-ministro das Finanças do longevo governo trabalhista de Tony Blair, só por isso já mereceria uma estátua. Além de não recebê-la, foi duplamente mandado para casa na primeira eleição: perdeu o cargo e também a liderança do partido. Agora é o colega espanhol quem segue o mesmo caminho.
Qual é o problema da Europa? O mesmo do resto do mundo. O modelo funcionou razoavelmente para evitar o pior, mas não indica as portas de entrada para um mundo melhor. Uns dizem que o remédio é ruim, outros dizem que a dose foi insuficiente, mas os povos não parecem querer pagar para conferir esta segunda hipótese. Para sair da crise com vigor, a Europa precisaria reorganizar-se economicamente e buscar para si algum protagonismo.
Tirando a Alemanha e seu ainda vigor tecnológico, o que exatamente a Europa faz melhor que o resto do mundo? Em inovação, os americanos lideram, seguidos pela Ásia. Em commodities agrícolas, quem manda é o mundo emergente. Igualmente em recursos minerais. Energia? Não parece que a Europa tenha algo de realmente novo a oferecer. Indústria, exportação? Aqui manda a China. Serviços? Muita gente competitiva, não parece haver grande vantagem para ninguém.
A Europa, como os Estados Unidos, consome demais e produz de menos. Mas, diferente dos americanos, não tem um ambiente com liberdade econômica suficiente para relançar rapidamente a expansão capitalista.
E o risco que corre é ser devorada de um lado pela superpotência e de outro pelos emergentes.
Um problema do Velho Mundo é exatamente este: a velhice.
.
Caro Amigo, sou obrigado a quotar o artigo publicado pela clareza com que tal trecho exemplifica a actual situacao europeia: "Tirando a Alemanha e seu ainda vigor tecnológico, o que exatamente a Europa faz melhor que o resto do mundo? Em inovação, os americanos lideram, seguidos pela Ásia. Em commodities agrícolas, quem manda é o mundo emergente. Igualmente em recursos minerais. Energia? Não parece que a Europa tenha algo de realmente novo a oferecer. Indústria, exportação? Aqui manda a China. Serviços? Muita gente competitiva, não parece haver grande vantagem para ninguém."
ResponderExcluir