Em um país onde historicamente a qualidade de educação é sofrível dificilmente pode se esperar esclarecer uma pessoa de idade, em uma fila do SUS, as oportunidades e obrigações que ela deixou de cobrar do Estado. Da mesma forma não se pode esperar que ela entenda e venha a conscientizar seus vizinhos e familiares.
Fiscalizar as ações do Estado requer maturidade social, visão de longo prazo mas, sobretudo, uma forte educação básica para se entender sobre o que se está falando.
BRASIL DE HOJE PRECISA PENSAR NO AMANHÃ
EDITORIAL
O GLOBO
Pesquisas que o IBGE realiza anualmente para avaliar as condições de vida dos brasileiros estão se aprimorando, e assim retratam com grande fidelidade a evolução do quadro social e econômico do país. No entanto, ainda que avanços tecnológicos e metodológicos ajudem a aperfeiçoar tais pesquisas, elas precisam de um ponto de partida sólido, que, no caso, é o censo demográfico decenal.
Os dados do último censo (2010), devidamente consolidados, vêm sendo divulgados e confirmam que o Brasil está em pleno período que os especialistas intitulam de bônus demográfico. São os anos em que mais teremos brasileiros nas faixas etárias aptas, simultaneamente, à produção, ao consumo, ao investimento, à poupança. Em decorrência da queda na taxa de fecundidade (para 1,86 filho por mulher em idade fértil), que se evidencia até mesmo nas regiões Norte e Nordeste - embora estejam ainda bem acima da média nacional, com, respectivamente, 2,42 e 2,01 filhos -, o ritmo de crescimento da população está diminuindo e caminha para a estabilidade dentro de no máximo duas décadas.
A queda na taxa de fecundidade é um fenômeno já observado em países de economia mais avançada, e geralmente resulta da conjugação de vários fatores, como a urbanização, a escolarização das mulheres e a maior participação delas no mercado de trabalho.
O bônus demográfico é uma janela de oportunidade, de duração relativamente curta em termos históricos. Como o número de crianças está se reduzindo, é possível redobrar esforços para se avançar na qualidade de ensino, da alimentação e da saúde infantil. Para os jovens, além da continuidade da educação convencional, é possível se abrir oportunidades com treinamento e cursos de qualificação profissional, conforme as demandas efetivas de mercado.
O fato de as famílias serem agora menos numerosas e se concentrarem em núcleos urbanos facilita a execução de programas que resolvam a questão habitacional, paralelamente com oferta de serviços básicos, em especial o saneamento, os transportes, a energia, as comunicações e os de saúde.
Findo o período do bônus demográfico, o país vai se deparar com uma população mais envelhecida. Até lá, terá de alcançar níveis de produtividade que possibilitem à economia funcionar bem com menos pessoas ativas no mercado. A proporção de aposentados e pensionistas crescerá, mas também haverá mais espaço para aqueles que desejarem, ou necessitarem, estender suas atividades profissionais.
Isso somente se tornará viável se no decorrer desse período de bônus demográfico o Brasil conseguir expandir sua poupança doméstica e o investimento, o que pressupõe aumento generalizado de eficiência, principalmente do setor público.
Há ainda muitas reformas por fazer no país, que envolvem desde o modo de se pensar as cidades até ajustes nas regras da previdência oficial. Tais reformas têm como horizonte o longo prazo, mas precisam ser postas em prática no curto e médio prazos, o que esbarra em dificuldades políticas. Para assegurar o seu futuro, as novas gerações dependem de que os políticos de hoje pensem mais no amanhã.
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