O Estado de S. Paulo
A taxa de desemprego nos Estados Unidos vem aumentando gradualmente desde 2000. Em parte, isso se deve à crise financeira e à retração da demanda. As vagas laborais têm crescido, mas mesmo assim o desemprego continua elevado. Em 2000 essa taxa foi de 4%; neste ano, deverá ficar em torno de 9,7%. Mas a crise financeira e fiscal americana não é a única causa dessa situação.
O fato é que há mais de 30 anos as grandes empresas americanas fizeram uma opção estratégica ao manterem no país a inteligência tecnológica e transferirem parte do processo de produção para países emergentes. Isso não significa desindustrialização. Trata-se de uma estratégia empresarial de preservar o conhecimento tecnológico inovador no país e, ao mesmo tempo, assegurar a escala de produção e a competitividade global, reduzindo custos e aumentando o lucro.
Essas empresas estão em várias partes do mundo, gerando empregos e melhorando a qualidade de vida, o ensino, a infraestrutura e a renda social em países como Honduras, Guatemala, Turquia, Tailândia, China, Indonésia, Polônia, Hungria, Vietnã, Índia, Brasil, entre outros. O reflexo dessa transformação foi uma rápida redução da participação do setor industrial e um acelerado crescimento do setor de serviços na composição do PIB americano. O setor industrial representa 17% do PIB e o de serviços, 80%. Em grande medida, essa mudança na composição do PIB americano deve-se à globalização.
Na expansão da globalização a escala de produção é crucial. Disso resultam as grandes fusões e aquisições de multinacionais, tanto as do setor industrial como as do de serviços. Com isso a demanda de mão de obra no mercado americano se tornou qualitativamente mais seletiva nos setores mais inovadores, restringindo a absorção plena de trabalhadores.
Além do fator "transferência da produção para outros países", o desemprego americano decorre do descasamento entre vagas existentes e a má qualidade da mão de obra para preenchê-las. Esse descasamento no mercado de trabalho qualifico de desemprego estrutural.
O despreparo dos trabalhadores é parte do problema do desemprego, mas, olhando mais adiante, notamos que falta uma reformulação das políticas de crescimento com plena absorção da oferta de mão de obra e aumento dos investimentos privados.
O modelo de crescimento americano não condiz com a globalização deste século. A possibilidade de investir em qualquer parte do mundo não deveria ter causado o desemprego estrutural, tampouco a estagnação dos investimentos em torno de 19% do PIB. Isso resulta no fato de ser pouco comum, ou quase raro, encontrarmos produtos que portem a etiqueta made in USA. Nos tempos modernos, não basta o empreendedor americano ser produtivo e inovador; ele precisa contar com trabalhadores eficientes, sistemas de custos próprios, tributários e de infraestrutura local que lhe permitam alavancar seus empreendimentos globalmente viáveis. Caso contrário, ele terá de procurar territórios mais promissores. Tais impedimentos produtivos os denomino de custo norte-americano. Esse elevado custo dificulta o crescimento sustentável e causa mais uma barreira na plena absorção dos trabalhadores. Isso nos leva a afirmar que o modelo norte-americano de crescimento está ultrapassado. Ele precisa ser modificado.
Se até a crise de 2007 o crédito fácil e a transferência da produção para outros cantos do mundo foram os mecanismos para acobertar o esgotamento da estrutura econômica norte-americana, na globalização deste século a lógica do crescimento é outra. É imprescindível modificar a estrutura do custo da produção com as seguintes medidas: reduzir os impostos sobre a folha de trabalho e dos salários; diminuir a carga tributária das empresas, estimulando-as a retornarem ao país; investir na qualidade da infraestrutura nacional; reduzir a dependência do capital estrangeiro; e estimular o uso eficaz da energia limpa.
Isso exigirá esforços públicos e privados. Se o governo, ao reduzir a carga tributária, perde receita, isso seria compensado com o aumento dos impostos sobre o consumo da energia suja e sobre as grandes fortunas. Mesmo assim, devem-se reduzir os custos da previdência, dos planos de saúde, da seguridade e do sistema de seguros. Mas isso não é tudo.
O retorno à prosperidade requer uma ampla reforma do sistema tributário com foco na redução do custo país, aumentando os investimentos, o emprego, ganhos de competitividade, estabilidade de preços e equilíbrio fiscal. Ainda que as reformas apontadas sejam feitas, sem um novo e crível sistema financeiro, nem os consumidores tampouco os investidores globais retomarão suas atividades na terra do Tio Sam.
Como se pode notar, os desafios são enormes, porém, enquanto o modelo de crescimento atual prevalecer, baseado no estímulo ao crédito, sem a contrapartida do made in USA, o governo americano aumentará o hiato do desemprego estrutural com perda de competitividade. Como consequência desses desajustes, ocorrem crescentes conflitos sociais, econômicos e políticos, que tornam o poder do Estado pouco eficaz e politicamente frágil para realizar as reformas essenciais.
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O fato é que há mais de 30 anos as grandes empresas americanas fizeram uma opção estratégica ao manterem no país a inteligência tecnológica e transferirem parte do processo de produção para países emergentes. Isso não significa desindustrialização. Trata-se de uma estratégia empresarial de preservar o conhecimento tecnológico inovador no país e, ao mesmo tempo, assegurar a escala de produção e a competitividade global, reduzindo custos e aumentando o lucro.
Essas empresas estão em várias partes do mundo, gerando empregos e melhorando a qualidade de vida, o ensino, a infraestrutura e a renda social em países como Honduras, Guatemala, Turquia, Tailândia, China, Indonésia, Polônia, Hungria, Vietnã, Índia, Brasil, entre outros. O reflexo dessa transformação foi uma rápida redução da participação do setor industrial e um acelerado crescimento do setor de serviços na composição do PIB americano. O setor industrial representa 17% do PIB e o de serviços, 80%. Em grande medida, essa mudança na composição do PIB americano deve-se à globalização.
Na expansão da globalização a escala de produção é crucial. Disso resultam as grandes fusões e aquisições de multinacionais, tanto as do setor industrial como as do de serviços. Com isso a demanda de mão de obra no mercado americano se tornou qualitativamente mais seletiva nos setores mais inovadores, restringindo a absorção plena de trabalhadores.
Além do fator "transferência da produção para outros países", o desemprego americano decorre do descasamento entre vagas existentes e a má qualidade da mão de obra para preenchê-las. Esse descasamento no mercado de trabalho qualifico de desemprego estrutural.
O despreparo dos trabalhadores é parte do problema do desemprego, mas, olhando mais adiante, notamos que falta uma reformulação das políticas de crescimento com plena absorção da oferta de mão de obra e aumento dos investimentos privados.
O modelo de crescimento americano não condiz com a globalização deste século. A possibilidade de investir em qualquer parte do mundo não deveria ter causado o desemprego estrutural, tampouco a estagnação dos investimentos em torno de 19% do PIB. Isso resulta no fato de ser pouco comum, ou quase raro, encontrarmos produtos que portem a etiqueta made in USA. Nos tempos modernos, não basta o empreendedor americano ser produtivo e inovador; ele precisa contar com trabalhadores eficientes, sistemas de custos próprios, tributários e de infraestrutura local que lhe permitam alavancar seus empreendimentos globalmente viáveis. Caso contrário, ele terá de procurar territórios mais promissores. Tais impedimentos produtivos os denomino de custo norte-americano. Esse elevado custo dificulta o crescimento sustentável e causa mais uma barreira na plena absorção dos trabalhadores. Isso nos leva a afirmar que o modelo norte-americano de crescimento está ultrapassado. Ele precisa ser modificado.
Se até a crise de 2007 o crédito fácil e a transferência da produção para outros cantos do mundo foram os mecanismos para acobertar o esgotamento da estrutura econômica norte-americana, na globalização deste século a lógica do crescimento é outra. É imprescindível modificar a estrutura do custo da produção com as seguintes medidas: reduzir os impostos sobre a folha de trabalho e dos salários; diminuir a carga tributária das empresas, estimulando-as a retornarem ao país; investir na qualidade da infraestrutura nacional; reduzir a dependência do capital estrangeiro; e estimular o uso eficaz da energia limpa.
Isso exigirá esforços públicos e privados. Se o governo, ao reduzir a carga tributária, perde receita, isso seria compensado com o aumento dos impostos sobre o consumo da energia suja e sobre as grandes fortunas. Mesmo assim, devem-se reduzir os custos da previdência, dos planos de saúde, da seguridade e do sistema de seguros. Mas isso não é tudo.
O retorno à prosperidade requer uma ampla reforma do sistema tributário com foco na redução do custo país, aumentando os investimentos, o emprego, ganhos de competitividade, estabilidade de preços e equilíbrio fiscal. Ainda que as reformas apontadas sejam feitas, sem um novo e crível sistema financeiro, nem os consumidores tampouco os investidores globais retomarão suas atividades na terra do Tio Sam.
Como se pode notar, os desafios são enormes, porém, enquanto o modelo de crescimento atual prevalecer, baseado no estímulo ao crédito, sem a contrapartida do made in USA, o governo americano aumentará o hiato do desemprego estrutural com perda de competitividade. Como consequência desses desajustes, ocorrem crescentes conflitos sociais, econômicos e políticos, que tornam o poder do Estado pouco eficaz e politicamente frágil para realizar as reformas essenciais.
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