Maturidade democrática, pragmatismo ao invés de ideologias e apego a "grifes" de marketing eleitoral.
A sociedade elegeu Obama para gerenciar um país complexo, para promover desenvolvimento e não para projetá-lo ao mundo e ganhar um Nobel (não intencionalmente, é claro) apenas por intensões e nada de concreto, apenas no campo do "mundo do dever ser".
Dois anos após como não houve indícios de resultados esperados, a mesma sociedade madura tirou-lhe a base do governo e optou por uma fiscalização responsável por parte da oposição.
Poderíamos começar aprendendo algo com os vizinhos ao invés de tutelar presidentes que se alinham com governantes de índole duvidosa.
Nosso país é sério e muito complexo para ser gerido com base em ideologia socialista. Não funcionou no mundo, nem em Cuba, tampouco funcionará aqui.
Obama assume a derrota
Isabel Fleck - Correio Braziliense - 04/11/2010
No dia seguinte à votação que deu força à oposição no Congresso, presidente admite "frustração" dos americanos com o seu governo
Um consternado Barack Obama assumiu ontem a responsabilidade pelas perdas do Partido Democrata nas eleições legislativas. Para o presidente, elas são a expressão mais concreta da "frustração" dos americanos com um progresso que eles não conseguiram ver - mas que, segundo Obama, ocorreu nos seus dois primeiros anos de mandato. A partir de janeiro de 2011, os democratas não terão mais o controle da Câmara dos Deputados e lidarão com uma apertada maioria no Senado, o que deve dificultar a ação do governo e, consequentemente, colocar em risco a reeleição de Obama. Considerando as perdas possíveis, contudo, o governo ainda tem o que comemorar: num esforço final, conseguiu segurar o Senado, inclusive cadeiras importantes, como as da Califórnia e de Nevada.
"Evidentemente, muitos americanos não sentiram o progresso ainda, e isso eles nos disseram ontem (na terça-feira). Assumo a responsabilidade por isso", disse Obama, em coletiva na Casa Branca. Ele, no entanto, ressaltou que a frustração expressa nas urnas está diretamente ligada ao progresso "insuficiente" na economia, e negou que tenha sido uma resposta negativa à reforma no sistema de saúde. "Não há dúvida que a principal preocupação da população é a economia", afirmou.
O presidente confirmou que, ainda na noite de terça-feira, telefonou para o deputado republicano John Boehner, cotado para assumir a Presidência da Câmara, e para o líder da oposição na casa, Mitch McConnell. "Estou ansioso para me sentar com os membros de ambos aos partidos e descobrir como podemos avançar juntos. (...) Não sou tão ingênuo a ponto de acreditar que todos vão colocar a política de lado, mas as circunstâncias requerem que todos nós, incluindo eu, trabalhemos mais para atingir um consenso."
Ao comentar a derrota de deputados e senadores democratas nas eleições, ele lamentou a saída de "servidores públicos fabulosos" do Congresso. E, mais uma vez, assumiu a culpa. "Não é só a tristeza de vê-los sair, mas também um questionamento da minha parte, se eu poderia ter feito algo diferente para que eles permanecessem aqui", declarou, prometendo que se empenhará mais nos próximos dois anos. "Isso (a eleição) mostra que eu preciso fazer um trabalho melhor, como todos em Washington fazem."
Dois importantes senadores democratas que estavam em risco conseguiram se reeleger por mais seis anos. Em Nevada, o líder da maioria democrata, Harry Reid, derrotou a republicana Sharron Angle, do movimento ultraconservador Tea Party, com menos de seis pontos percentuais de diferença. Na Califórnia, Barbara Boxer se impôs com menos de 10 pontos sobre outra candidata da direita republicana, Carly Fiorina. Em seu discurso de vitória, Reid chamou a atenção dos correligionários e pediu mais compromisso e trabalho com os republicanos. "Nós não somos avestruzes, com a cabeça enterrada na areia. Temos disposição para levantar a cabeça e olhar ao redor para ver se eles têm ideias melhores", disse o líder reeleito.
Senado
Até a noite de ontem, a apuração indicava que os republicanos aumentaram suas bancadas em pelo menos 61 cadeiras na Câmara e cinco no Senado. Também garantiram 27 dos 50 governos estaduais. Segundo o professor da Universidade de Yale David Mayhew, o fato de a situação no Senado também não ter sido revertida é inédita na política americana. "Desde 1913, quando se iniciaram as eleições diretas para o Senado, toda vez que muda o controle do partido na Câmara, o Senado muda também", destaca.
Para ele, no entanto, isso tem a ver principalmente com as cadeiras específicas que estavam em jogo neste ano, no Senado. "as 37, apenas 19 eram democratas, e eles perderam quase a metade. Das 63 que não estavam em jogo, 40 são ocupadas por democratas. Se todas estivessem em disputa, os governistas teriam enfrentado um problema real", observa.
Hasta la vista
Pelo menos na Califórnia, o sol brilhou para os democratas. Além de reeleger a senadora Barbara Boxer, o partido reconquistou o governo estadual, depois de dois mandatos de Arnold Schwarzenegger. Mas não é qualquer democrata que volta para o posto, e sim o veterano Jerry Brown, que governou o estado entre 1975 e 1985. Aos 72 anos, ele será o mais velho a assumir o estado, depois de ter sido também o mais novo, na década de 1970. Por 52% a 43% dos votos, Brown venceu Meg Whitman, ex-diretora do site de leilões virtuais eBay, que gastou mais de US$ 160 milhões do próprio bolso na campanha.
Derrota simbólica
A vaga aberta no Senado por Barack Obama, há dois anos, é agora de um republicano. A vitória de Mark Kirk sobre o democrata Alexi Giannoulias, embora apertada, é considerada simbólica: a cadeira que projetou nacionalmente o atual presidente só esteve com republicanos por um mandato, nas últimas quatro décadas. Obama fez campanha ativa para Giannoulias, que teve a candidatura abalada pela falência de um banco de sua família. Kirk, de 51 anos, tem reputação de moderado em questões sociais e conservador em assuntos fiscais. Os democratas também perderam em Illinois três deputados.
FALTOU CHÁ NAS URNAS
Grande promessa durante a campanha eleitoral, o movimento ultraconservador Tea Party (partido do chá) saiu das eleições com muito menos do que se esperava. As candidatas ao Senado Sharron Angle (por Nevada) e Christine ODonnell (por Delaware) estão entre os seguidores da ex-governadora do Alasca Sarah Palin que perderam postos para democratas enfraquecidos. ODonnell tirou a chance de um republicano promissor Michael Castle nas primárias do partido para ser vencida em uma disputa na qual a oposição tinha tudo para ganhar.
No Alasca, o impacto negativo do Tea Party dentro do partido ficou evidente nas urnas. Depois que o representante do movimento, Joe Miller, venceu as primárias republicanas, a senadora republicana Lisa Murkowski resolveu concorrer por fora, sem partido, com uma opção de ter seu nome inscrito pelos eleitores na cédula. A apuração mostrou que 41% dos votantes escreveram o nome de seu candidato na cédula, contra 34% que votaram em Miller. Serão necessários vários dias, no entanto, para apurar se Murkowski conseguiu derrubar o correligionário.
Alguns nomes do Tea Party, no entanto, fizeram valer a ameaça do movimento ultraconservador contra os democratas. Rand Paul, candidato ao Senado por Kentucky, e Marco Rubio, da Flórida, venceram em seus estados com certa folga e prometem fazer oposição dura ao governo Obama em Washington. Mesmo que os republicanos não tenham ganhado o controle do Senado, eles ainda têm poder de veto, reforçado por vozes poderosas do Tea Party, que incomodarão bem mais do que os republicanos moderados, afirma o cientista político William Allen, da Universidade Estadual de Michigan.
Nenhum comentário:
Postar um comentário