13/1/2010
A cúpula de Seul, que reuniu os presidentes e chefes de governo das 20 economias mais importantes do planeta, acabou produzindo uma nota vaga de compromissos genéricos, mas não eliminou os principais entraves ao crescimento harmonioso dos povos. A guerra cambial que envolve as principais economias e que é uma ameaça global não foi enfrentada a não ser com palavras e estas mesmo insuficientes para dar uma orientação segura e impor caminhos efetivos. O G-20 chegou a um consenso para enfrentar “tensões e vulnerabilidades” e para imprimir “linhas indicativas” para medir os desequilíbrios, mas alerta que “os riscos continuam”. O Brasil, que é uma das vítimas dessa crise, teme que a assimetria entre os distintos crescimentos pode resultar em políticas de protecionismo comercial, num momento em que o mundo precisa expandir a produção e o consumo para eliminar de vez as sequelas da crise que se iniciou em 2008 e que se prolonga agora na forma de uma guerra cambial.
As questões que levaram as 20 maiores economias à cúpula de Seul não são novas, mas repetitivas: protecionismo comercial, manipulação de câmbio, dólar como padrão monetário, papel do Estado e das instituições multilaterais na fiscalização e controle, entre outras. A nota do G-20 não dá resposta a nenhuma dessas questões crônicas, nem sugere um caminho para amenizar as tensões agudas da atual guerra cambial. Neste sentido, o encontro não pode nem de longe ser tido como um sucesso, até mesmo por reconhecer que os riscos se mantêm.
A história econômica deste início de século 21 será contada a partir dessa grande crise e de suas sequelas. Em nenhum momento desde pelo menos 1929, um desequilíbrio nas relações econômicas mundiais levou tantas instituições financeiras à falência, nem produziu reflexos tão arrasadores como os que estão atingindo a Grécia, a Irlanda, a Hungria, a Espanha e até os Estados Unidos. Mais do que constranger os grandes sistemas que comandam as finanças nacionais e mundiais, a crise nesses países está chegando ao homem comum e à economia das famílias na forma de desemprego e de dificuldade de honrar as dívidas. A desvalorização do dólar representa, por exemplo, um grave entrave para a indústria de calçados de Novo Hamburgo. No Plano de Ação de Seul estão algumas sugestões para que as economias do G-20 se movam no sentido de um “sistema de taxas de câmbio mais determinado pelo mercado”, e que os países devem “abster-se de desvalorizações competitivas de moedas”. Tais recomendações genéricas, mesmo que se considere que foram as únicas possíveis neste momento de indefinições e de apreensão, não parecem ser suficientes.
O Brasil precisa preparar-se para as oscilações globais decorrentes da crise e para adotar as medidas cabíveis para evitar que sua economia – e a dos países em igual situação – seja afetada negativamente pela disputa entre Estados Unidos e China e pela insuficiente capacidade global de impor uma regulação capaz de evitar a disseminação dos problemas. Ninguém está ao abrigo das tormentas que podem advir do confronto entre as potências desse novo momento global. O novo mundo que está nascendo representa um desafio para países que, como o nosso, se aprestam para ocupar um espaço mais efetivo no mapa global da economia e da diplomacia.
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