quinta-feira, 9 de junho de 2011

Empresas brasileiras avançam na busca pela sustentabilidade


Carlos Vasconcellos 
Valor Econômico



Gestão: Especialistas analisam a atuação dos empresários e dizem ser preciso avançar mais


Busca por eficiência energética, mudança climática, redução de emissões de gases do efeito estufa passaram a fazer parte do vocabulário dos executivos do país nos últimos anos. Até que ponto o discurso e a prática ambiental das empresas no Brasil evoluíram de forma consistente? Para Bárbara Oliveira, coordenadora do Programa de Sustentabilidade Global do Centro de Estudos da Sustentabilidade da FGV-Eaesp, o avanço é real. "Os líderes empresariais brasileiros percebem a complexidade da questão, a responsabilidade coletiva em relação ao meio ambiente e os riscos a gerir", avalia. É pouco. "Precisamos avançar a passos mais largos", afirma.

"A questão ambiental deve ser incorporada em todos os processos e em todas as áreas", continua. "Deve envolver as pessoas da diretoria ao chão da fábrica e incluir toda a cadeia de fornecedores", enumera. "Em resumo: precisa ser levada em conta em todas as decisões." E, para ela, o ambiente de negócios no Brasil ainda está longe de chegar a esse nível de consciência. "É muito comum olhar o meio ambiente só do portão da fábrica para dentro", diz. "Ou esquecer que tudo tem um impacto. Não adianta reduzir emissões de CO2 e triplicar o gasto de água, por exemplo."

Apesar desses desafios, ela não acredita que o Brasil esteja atrás dos outros países na construção de um modelo de economia verde. "No momento, todos estão em busca desse modelo de sustentabilidade." A responsabilidade por sua criação, no entanto, não deve recair unicamente sobre as empresas. "Todos precisam se envolver. Os consumidores precisam dar preferência aos produtos sustentáveis, as autoridades precisam estimular a sustentabilidade nos negócios, com incentivos positivos para ações ambientais voluntárias", explica Bárbara.

uzana Khan, professora da Coppe-UFRJ e vice-presidente de Mitigação do Painel Intergovernamental de Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês), concorda. "O governo deve atuar no sentido de redirecionar o modelo de desenvolvimento", afirma. Ela propõe ações práticas. "Não seria o caso de criar impostos, mas de estabelecer uma espécie de redução, de tributos verde, para diferenciar as empresas em função da pegada de carbono, por exemplo".

Suzana também acredita no poder dos consumidores. "As empresas vão atender à demandas dos clientes. Se eles quiserem carros ecológicos, com baixa pegada de carbono, as montadoras vão correr atrás, para ficarem mais competitivas", diz. Sem falar na força dos protestos, amplificados na era das redes sociais. "A informação e educação da sociedade são importantes. Quando as pessoas são ativas em defesa do ambiente, as empresas se assustam e andam mais rápido."

Já Sérgio Leitão, diretor de campanhas da organização não-governamental Greenpeace no Brasil, acredita que o País está patinando na questão ambiental. "As empresas mais avançadas ainda se limitam aos processos produtivos em si, não enxergam o panorama geral", critica. "Ainda estão no pré-primário da responsabilidade ambiental." Segundo ele, muitas empresas atuam publicamente em projetos ambientais, mas depois lutam contra os avanços no controle dos danos ao meio ambiente. "Foi o que vimos no debate do novo Código Florestal, ou na Federação das Indústrias de São Paulo, com o claro bloqueio às leis nacionais e estadual contra a emissão de gases do efeito estufa."

"Infelizmente, estamos retornando à velha tese que opõe desenvolvimento e preservação ambiental." Segundo ele, no entanto, o País não está se dando conta disso. "Na prática, as empresas estão usando o verde como um decalque de marketing e a agenda corporativa vai na contramão da economia de baixo carbono." Para Suzana, o motivo pelo qual a mudança é lenta é o custo. "A expectativa é de que o processo de adaptação no mundo corporativo fique mais rápido, à medida que aumentem a percepção social do problema e os impactos econômicos que ele traz", explica. E alerta: é bom que as empresas fiquem atentas aos desdobramentos desse novo cenário, em que o meio ambiente também virou arma na guerra do comércio mundial.
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