terça-feira, 1 de novembro de 2011

FALTA DE PRODUTIVIDADE LEVA A MAIOR DÉFICIT COMERCIAL


EDITORIAL
O ESTADO DE S. PAULO


Nos nove primeiros meses do ano, o déficit comercial da indústria transformação somou US$ 35,3 bilhões, com aumento de 37,1% em relação ao mesmo período de 2010. Não poderia haver melhor imagem do processo de desindustrialização pelo qual passamos.

Porém o mais alarmante, talvez, no estudo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) é que o maior déficit está no setor de média-alta tecnologia: máquinas e equipamentos elétricos, veículos, automóveis, produtos químicos (sem fármacos), equipamentos para ferrovias e máquinas - bens cuja demanda vai continuar crescendo, mas que nossa indústria não consegue oferecer a um preço competitivo e com o desempenho desejável. Nesses produtos, o déficit comercial chega a US$ 38,4 bilhões. Em 1989, apresentavam ligeiro superávit.

Já se sabia que o setor dos bens de alta tecnologia dependia muito da importação, e, de fato, apresenta déficit de US$ 23,1 bilhões, que mostra tratar-se de um setor onde a demanda é muito elevada, mas no qual somos incapazes de ter uma produção realmente nacional, o que nos marginaliza dos avanços tecnológicos. Na realidade, o setor em que apresentamos um superávit comercial (de US$ 31,7 bilhões) é o de baixa tecnologia, no qual predominam os alimentos (consequência da alta produtividade da agricultura brasileira) e a celulose.

Não é por falta de demanda que o País está nesta situação, mas, essencialmente, em razão da incapacidade da indústria de responder a ela.

Não há dúvida de que a taxa cambial favoreceu esse descasamento, mas esse é apenas um dos fatores que a indústria teve de enfrentar. O maior problema encontra-se na baixa produtividade da economia como um todo, que ficou estável nos últimos 30 anos, segundo estudo da Universidade da Pensilvânia.

O estudo, que nos coloca no 130.º lugar no mundo, precisaria certamente de alguns reparos. Baseia-se na produtividade global média. Mas a nossa situação é de uma população rural ainda importante e de grande incidência de empregos nos serviços (a maioria pouco produtiva). China e Índia têm produtividade menor que o Brasil pela mesma razão, e com uma agricultura muito mais atrasada do que a nossa.

Mas os progressos da Coreia em dez anos mostram que, quando a indústria é prioritária e se concentra em produtos de alta tecnologia, a produtividade pode dar um verdadeiro salto.
O que falta à nossa indústria é uma firme vontade de realizar investimentos em inovação, além de alguma ajuda do governo.
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