Lázaro Guimarães
Correio Braziliense
A fome e o tráfico de seres humanos para o trabalho escravo, a prostituição, a mendicância ou o emprego forçado no crime organizado, velhos flagelos que a humanidade não conseguiu debelar, passam a receber especial atenção da Organização das Nações Unidas.
O brasileiro José Graziano da Silva assumiu, em 1º/1 passado, a presidência da Organização para a Agricultura e Alimentação (FAO), entidade da ONU criada em 1945, destinada a subsidiar os países no desenvolvimento agrícola e no combate à desnutrição. Jornais e revistas do mundo inteiro destacam a perspectiva de uma gestão promissora de quem no Brasil elaborou o Programa Fome Zero e atuou intensamente na implantação do Bolsa Família, dos quais resultou a passagem de mais de 25 milhões de brasileiros da situação de miséria absoluta para uma condição condigna.
Graziano vai enfrentar uma conjuntura econômica adversa, dada a crise financeira persistente, mas já conquistou o apoio expressivo da direção da ONU para o seu projeto de reformulação administrativa e mobilização política, não apenas por suas credenciais como ex-ministro de um país vitorioso nessa missão específica, como também por ser conhecedor dos meandros da instituição, na qual atuava como subdiretor desde 2006.
A ação governamental voltada para a erradicação da pobreza tem como resultado a elevação geral do índice de desenvolvimento, na medida em que faz incorporar ao mercado e, muito mais, desde que aliada a políticas educacionais adequadas, à cidadania, grande parte da população.
O outro flagelo, o tráfico humano, é objeto de campanha global, liderada por instituições públicas e privadas de vários países, empenhadas em denunciar e reprimir o comércio ilícito de homens e mulheres para fins abjetos. São milhões de pessoas submetidas a regime de escravidão por máfias internacionais.
É preciso que os poderes públicos e as comunidades se aliem nessa luta para identificar e punir os responsáveis por essa prática ignominiosa. Daqui do Brasil, de há muito, se sabe que há quadrilhas formadas para recrutar mulheres, algumas menores, iludindo-as com promessas de emprego ou de casamento no exterior, onde são recebidas como escravas e submetidas a todo tipo de provação. Homens também são levados, seja para o trabalho clandestino e sub-remunerado, seja para integrar atividades criminosas.
No âmbito interno, em cada cruzamento com sinaleiras veem-se crianças obrigadas a pedir esmolas ou a limpar parabrisas em troca de moedas que vão parar nos bolsos dos adultos aproveitadores. Essa também é uma atividade ilícita que tem de ser combatida.
Até há pouco tempo, predominava no Brasil a emigração, muitas vezes promovida por intermediação criminosa dos coiotes sediados na fronteira do México com os Estados Unidos. Agora, em razão do crescimento da nossa economia, chegam ilegalmente ao Acre milhares de haitianos, trazidos mediante paga por intermediadores peruanos. É hora de os países do continente se unirem na repressão a esse tráfico e de as autoridades brasileiras ficarem atentas ao destino dos homens, mulheres e crianças que fogem da miséria e podem descambar numa situação ainda pior, de escravidão.
Por enquanto, ressoam os anúncios na televisão, no rádio e nos jornais das campanhas globais de combate à fome e ao tráfico humano. Mais que torcer pelo sucesso desses esforços, deve-se exigir de órgãos como a Polícia Federal, as polícias estaduais, o Ministério Público e o Poder Judiciário que adotem programas específicos e interativos que ajudem de uma vez a eliminar essas feridas que atentam contra a dignidade humana.
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