sábado, 14 de janeiro de 2012

Hábitos de consumo refletem avanços

O Globo



Pesquisas de Orçamentos Familiares (POF), realizadas a cada cinco anos, captam o perfil de consumo da grande maioria dos brasileiros e servem de base de cálculo para os índices que apuram a variação dos preços. No passado, mudanças substanciais em hábitos de consumo eram mais lentas, de modo que tais pesquisas só precisavam ser feitas a cada dez anos. Isso não é mais possível, haja vista o resultado da última POF, apurada pelo IBGE, que mostrou como alguns itens caíram rapidamente em desuso, enquanto outros passaram a pesar de maneira substancial nos orçamentos familiares.

Lâmpada convencional, fralda de pano, filme fotográfico, máquina de costura, sardinha, gelatina, melão e chuchu, por exemplo, deixaram de ter participação relevante nos orçamentos. Por outro lado, as famílias com renda mensal de até 40 salários mínimos incluíram nos seus hábitos o consumo de salmão, carne de carneiro, fralda descartável, DVD, morango e telefone conectado à internet.

A atualização dos hábitos de consumo é importante para que os índices de preços reflitam a variação do custo de vida, na média, da maioria dos brasileiros. Tais índices não captam a flutuação das quantidades consumidas no curto prazo. Assim, se o preço de um bem ou de um serviço dispara, e em razão disso a demanda diminui em 90% no mês da coleta, somente a alta é registrada pelo índice. Em razão dessas variações ou de mudanças tecnológicas, o perfil de consumo pode se alterar com o passar do tempo, fazendo com que os índices não reflitam mais a efetiva ponderação dos gastos das famílias.

Como se usa cada vez mais o transporte individual (para trabalho e lazer), esses gastos agora comprometem fatia maior dos orçamentos familiares e, portanto, terão mais peso no índice de preços. Já os gastos com telefonia fixa caíram e tiveram seu peso reduzido quase pela metade.

Para se ter ideia do impacto da nova ponderação, se o IPCA de 2011 tivesse sido calculado com base no resultado da nova POF, a variação não teria sido de 6,5%, mas sim de 6,1%.

As mudanças nos hábitos de consumo ocorridas no Brasil não foram decorrentes apenas de modismos, pois resultam, principalmente, do acesso, por maior número de pessoas, a certos bens e serviços que não poderiam ser adquiridos seja pelos preços mais elevados ou por falta de crédito e renda.

A economia brasileira sofreu forte transformação a partir do Plano Real, cujo êxito foi assegurado, de maneira considerável, por um processo de abertura de mercado e quebra de monopólios. São conquistas mais percebidas a médio prazo e que mostram como é importante o país fazer bem o seu dever de casa. O combate à inflação não é uma questão de preciosismo do pensamento conservador, mas uma necessidade imperiosa para avanço de toda a sociedade brasileira; a abertura de mercados não foi somente uma opção ideológica de cunho neoliberal, mas uma atitude essencialmente pragmática para proporcionar mais eficiência à economia do país, e gerar ganhos capazes de serem apropriados pelo conjunto dos agentes econômicos, produtores e consumidores. Fundamentos dos quais não devemos nos afastar.
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