ROBERTO RODRIGUES
Blog do Murillo
Nós aqui, sem estratégia, ainda criamos dificuldades para atrair investidores; sem falar no custo Brasil
Alguns dos principais líderes mundiais públicos e privados estão reunidos na gelada Davos, na Suíça, debatendo acaloradamente o futuro. A crise financeira da Europa -com seus reflexos na economia global- está por trás das discussões todas.
Como sempre, analistas farão as mais variadas previsões, das quais muitas jamais se confirmarão.
É o World Economic Forum (WEF), onde os dirigentes têm uma excelente oportunidade de trocar ideias e experiências, além de entabular negócios.
E, finalmente, a agricultura ganhou importância no temário geral, empurrada pelas questões ligadas ao combate à fome e ao aquecimento global, entre outros fatores.
Um competente grupo de trabalho foi constituído para estudar o assunto, e construiu o documento "Uma nova visão para a agricultura", alicerçado em três pilares (segurança alimentar, sustentabilidade e oportunidade econômica).
Ele estabelece o Compromisso 20/20/20, propondo que a cada década o planeta aumente a produção agrícola em 20%, reduza as emissões de gases de efeito estufa em 20% e diminua a pobreza rural em outros 20%.
Naturalmente, cada um desses pilares tem uma variada receita de propostas e projetos que passam pelo uso de novas tecnologias, minimização de desperdício, melhoria de hábitos alimentares, redução do impacto no ambiente, gestão de bacias hidrográficas, sequestro de carbono, preservação da biodiversidade, aumento da renda dos mais pobres etc.
E também assinala a necessidade de esforços coordenados e concentrados no sentido de investimentos em inovação, infraestrutura e logística e mecanismos de mercado acessíveis a todos.
O interessante desse trabalho de fôlego é a premissa principal: mobilizar o setor privado internacional para tornar a agricultura o motor central do crescimento social e da estabilidade do futuro.
Não há nenhuma garantia de que isso gere ações concretas, até porque a receita é extremamente variada e rica, dependendo do país em que seja aplicada.
Mas é a primeira vez que um fórum da qualidade do WEF, com a assistência de tantos líderes poderosos, trata do agro de forma objetiva e propositiva.
A compreensão de que a fome é ameaça à paz pode estar determinando essa novidade.
E, é claro, o Brasil emerge como um potencial grande produtor mundial. Mas, surpreendentemente, com importância relativa menor.
A propósito, nesta semana estive em Berlim para um encontro de grandes empresas mundiais ligadas ao agro para discutir investimentos em agricultura na África.
Os números mostrados lá foram impressionantes. Somente a África subsaariana teria mais de 200 milhões de hectares agricultáveis, três vezes a área atualmente cultivada no Brasil. Nós temos mais 100 milhões de hectares para incorporar à área produtiva. E temos tecnologia, gente e competência para crescer rapidamente, mas não temos estratégia, política coordenada, regras.
Já os países africanos não têm isso, nem infraestrutura, nem gente preparada e ainda lhes falta institucionalidade, como a propriedade da terra, por exemplo.
Mas os governos africanos estão chamando os investidores e pedindo para dizerem o que querem, propondo-se a fazer o que for necessário para que venham investir.
E esses, percebendo o potencial de altíssimos lucros em razão de custos baixos e de um gigantesco mercado demandante, querem ir logo, com pressa.
E nós aqui, sem estratégia, ainda criamos dificuldades de toda ordem para atrair investidores. Sem falar no nosso conhecido custo Brasil.
Será possível que ficaremos deitados eternamente em berço esplêndido? Está na hora de nos levantarmos do berço, trabalhar com vigor para depois dormirmos tranquilos na grande cama que estão querendo levar para outros continentes.
Basta ver os pesados investimentos agrícolas que estão sendo feitos por empresários estrangeiros na Rússia, na Ucrânia e em outros países da Europa Central. E agora é a vez da África...
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