segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Os dias de mão de obra chinesa barata estão perto do fim

 KATHLEEN E. MCLAUGHLIN
O ESTADÃO 

O que isso significará para consumidores dos EUA e de outros países é simples: em breve, os preços dos produtos chineses começarão a subir


As fábricas do principal polo industrial da China voltaram a sentir o aperto financeiro: pela segunda vez em menos de um ano, os salários mínimos da província de Guangdong subiram nada menos que 20% em janeiro.

E, embora o salário mínimo de uma província chinesa possa parecer um problema local, a questão salarial demonstra que na China agora há um impulso constante para o estabelecimento de empresas voltadas à produção de artigos de alta qualidade, que remunerem melhor o trabalho.

Em outras palavras, os dias da mão de obra chinesa inesgotável e barata estão prestes a acabar. O que isso significará para consumidores dos Estados Unidos e de outros países é simples: em breve, os preços dos produtos chineses começarão a subir. "Acho que é um bom argumento, agora que a corrida global para um mercado de trabalho muito barato acabou", disse Geoffrey Crothall do China Labour Bulletin, grupo de defesa dos direitos do trabalhador com sede em Hong Kong. "Não há mais para onde ir."

O Delta do Rio das Pérolas deixou de ser um lugar favorável à indústria em termos de custos; ali foram criadas cadeias de suprimentos, fábricas e infraestrutura. As companhias que querem produzir a custo ultra baixo estão se mudando para o interior da China, ou para países mais pobres, como Bangladesh e Camboja. Entretanto, não há nada no horizonte que possa substituir o modelo chinês dos anos 1990 e 2000. "Talvez seja possível encontrar mão de obra mais barata fora da China, mas nunca na mesma escala", disse Crothall.

Dados recentes mostraram uma desaceleração significativa da indústria chinesa. Os analistas advertiram que essa tendência continuará, e será um problema para o governo, preocupado em manter o emprego elevado. No entanto, a China está decidida a produzir mercadorias de valor mais elevado e pressiona nesse sentido.

Em Guangdong, onde milhares de pequenas fábricas fecharam as portas nos últimos anos por causa da alta dos custos, os seus proprietários protestam contra a obrigatoriedade de aumentar salários. Entretanto, organizações trabalhistas afirmam que a medida é necessária para que os trabalhadores possam enfrentar o rápido aumento da inflação e defendem o objetivo do governo - deixar de produzir mercadorias baratas.

Os diretores das fábricas dizem que compreendem o desejo do governo de fazer a transição para a produção de mercadorias mais caras, mas ela não pode ser forçada nem poderá ocorrer da noite para o dia. Várias associações de industriais de Hong Kong protestaram contra o recente aumento dos salários adotado pelo governo de Guangdong, argumentando que é excessivo e rápido demais.

Stanley Lau, vice-diretor da Federação das Indústrias de Hong Kong, afirmou que os industriais precisam de um período de transição. Segundo ele, as empresas querem investir em moderna automação, pesquisa e desenvolvimento, mas é um processo que leva tempo. "Para isso, precisamos de recursos, Não posso simplesmente fazer o upgrade de uma fábrica com palavras."

Ao mesmo tempo, os proprietários de pequenas empresas do Delta do Rio das Pérolas afirmam que o aumento dos custos, e não apenas para pagar os salários, os está levando para o colapso.

"O que mais podemos fazer? Precisamos jogar de acordo com as regras", observa Wu Keshu, da fábrica de Cerâmicas Hongtai, de Chaozhou, em entrevista por telefone. "Não temos maneiras inovadoras para reagir."

"Teremos de nos adaptar a essa nova situação elevando os preços", disse Wu. "Estamos observando um certo declínio nos negócios, mas não muito."

Durante dezenas de anos, a província de Guangdong e o Delta do Rio das Pérolas foram o centro da ascensão econômica da China. E, embora as grandes indústrias e as companhias estatais tenham contribuído significativamente para a expansão da economia, as pequenas e médias empresas também ajudaram a impulsionar a China, tornando-a a segunda maior economia mundial.

Com o aumento dos salários, dos custos das matérias-primas e de outros custos, as empresas menores afirmam que estão sendo obrigadas a sair do ramo.

Segundo Lau, a se manter o ritmo atual, este ano 30% das fábricas de Guangdong reduzirão a produção ou fecharão em razão da elevação do salário mínimo decretada no ano passado. Outro aumento de 18 a 20% acabará com a indústria.

Mas Crothall não é muito condescendente, e observa que, embora a inflação tenha diminuído um pouco, os trabalhadores chineses precisarão de mais do que isso para sobreviver.
TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA
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