Guilherme Meirelles
Valor Econômico
O setor de aviação executiva atravessa um momento crucial. Nos últimos dez anos, o número de aeronaves particulares e helicópteros cresceu muito acima da infraestrutura disponível nas principais metrópoles. A situação pode se agravar ainda mais em São Paulo, após as concessões dos aeroportos de Cumbica e Viracopos. Segundo especialistas, a tendência é que os novos operadores privilegiem a aviação comercial, pelo ganho das tarifas cobradas aos usuários, em detrimento da aviação executiva, que já enfrenta dificuldades para suas operações nos grandes aeroportos. Por outro lado, esse quadro abre espaço para que o setor privado busque autorização na Anac (Agência Nacional da Aviação Civil) para viabilizar aeroportos executivos.
Segundo a Anac, ao final de 2011, havia 5.906 aeronaves particulares no Brasil. Foram emitidas no ano passado 1.926 licenças para pilotos privados (que não podem pilotar táxi aéreo ou linhas regulares), mais que o dobro de 2006, com 897 autorizações. "É um setor que tem crescido 25% ao ano", afirma José Wilson Massa, consultor de gestão de aeroportos.
Em São Paulo, as operações estão concentradas no aeródromo do Campo de Marte (Zona Norte), com uma média mensal de 8.500 pousos e decolagens domésticas, com 22 hangares disponíveis para aviação executiva. Nos aeroportos comerciais, a situação não é animadora. Em Congonhas, voos executivos e taxis aéreos só podem fazer quatro operações por hora.
Segundo o engenheiro civil Anderson Correia, professor de Operações em Aeroportos no ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica), a entrada do setor privado no ramo de aeroportos executivos vai desafogar o movimento aéreo. Mas adverte: "Aviação executiva por si só não é uma atividade lucrativa. Precisa haver projetos imobiliários no entorno e oferta de serviços no local".
Em janeiro de 2014, a construtora JHSF espera iniciar as atividades no aeroporto executivo a ser instalado em Araçariguama (SP), a 80 km da capital. Aprovada pela Anac, a obra vai ocupar um total de 7 milhões de metros quadrados (mais de 3 vezes a área do Campo de Marte) e exigirá investimentos superiores a R$ 7 bilhões. A pista terá 2.450 metros e fará operações internacionais. O projeto prevê um outlet, centro empresarial, centro médico na área residencial, uma universidade e, possivelmente, um hotel. Segundo Francisco Lyra, sócio da CFLY Aviation (parceira da JHSF no projeto), o foco principal será atender o público de alta renda, principalmente executivos de multinacionais, que realizam com frequência voos intercontinentais de longo curso. "Hoje, as aeronaves particulares que chegam ao Brasil são obrigadas a pousar em um aeroporto internacional e depois são trasladadas para outros aeroportos distantes por questões de falta de espaço e infraestrutura para esse tipo de operação", afirma Lyra. Em linha reta, por helicóptero, a distância à região da avenida Faria Lima é de 30 km.
De menor porte, autorizados apenas para voos domésticos, dois novos aeroportos executivos privados devem ser abertos no Estado nos próximos anos. Um deles será em Praia Grande, litoral Sul, com uma área total de 4,8 milhões de metros quadrados. A iniciativa é da construtora Icipar e prevê a implantação de um novo complexo empresarial de 212 empresas, com geração prevista de 15 mil empregos. A pista terá 2.600 metros. O investimento total é de R$ 520 milhões.
A construtora Penido escolheu o município de Caçapava, no Vale do Paraíba, para montar um projeto voltado para o setor aeroespacial. O município foi escolhido por ser vizinho a São José dos Campos, principal polo industrial do setor. O empreendimento terá um aeroporto com pista de 1,5 mil metros, uma área com 470 lotes industriais, a serem ocupados exclusivamente por empresas do setor, e duas universidades (Univap e Unip) com cursos de engenharia aeronáutica. O investimento total é de 180 milhões.
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