A escola que ficou somente no papel
RENATA MARIZ
Correio Braziliense
Manifesto assinado por notáveis, como Anísio Teixeira, que definia diretrizes para um ensino de qualidade no Brasil, faz 80 anos sem sair do papel.
Manifesto criado por notáveis da área, como Anísio Teixeira e Cecília Meireles, completa 80 anos, e as diretrizes para um ensino de qualidade na época não avançaram. Aulas em tempo integral, qualificação de professores e infraestrutura ainda engatinham no país
No país que escalou posições em termos econômicos, tirou milhares da pobreza extrema e conseguiu solidificar suas instituições democráticas, a constatação feita 80 anos atrás, no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, continua atual. "Na hierarquia dos problemas nacionais, nenhum sobreleva em importância e gravidade ao da educação", começava o documento histórico, marco do movimento brasileiro que definiu, em 1932, as bases para a construção de uma escola pública de qualidade. Oito décadas depois da carta aberta assinada por notáveis como Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo e Cecília Meireles, as propostas lançadas, até hoje consideradas fundamentais para uma reforma educacional de verdade, tiveram avanços tímidos.
Embora o acesso à educação tenha melhorado, com 98% das crianças de 7 a 14 anos matriculadas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a qualidade do ensino não evoluiu no mesmo ritmo. E temas defendidos ainda pelos pensadores da Educação Nova — como escola integral, valorização do professor e instalações de qualidade para a aprendizagem — são reavivados de tempos em tempos pelos governos e pela sociedade. "O manifesto trouxe uma ideia de planejamento absolutamente inédita naquele momento da história brasileira. Mas esse grande objetivo foi derrotado. Hoje, vivemos de improviso no campo da educação", lamenta Romualdo Portela de Oliveira, professor de política educacional na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). Segundo ele, a "única vitória" nesses 80 anos é que os temas continuam em discussão.
O movimento encabeçado pelos pensadores, porém, rendeu frutos nos campos político, ideológico e jurídico. É de 1934, portanto na efervescência da mobilização, o primeiro dispositivo constitucional determinando que a educação é direito de todos, devendo ser garantida pela família e pelo poder público. A década de 1950 mostrou-se fértil em termos de experiências inovadoras, como o Centro Educacional Carneiro Ribeiro, inaugurado por Anísio Teixeira em Salvador, que unia formação acadêmica e lúdica. No período, surge também o método de alfabetização de Paulo Freire, transformado em programa nacional em 1962. O golpe militar bane muito dos modelos considerados "subversivos" e faz uma expansão do ensino com pouca qualidade. Com a reabertura política, o tema volta e permanece no topo da "hierarquia dos problemas nacionais", como disseram há 80 anos.
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