terça-feira, 28 de agosto de 2012

UM NOVO PAPEL

Uma bela homenagem para um dos heróis de nossa infância.
Vale a pena a leitura.


UM NOVO PAPEL
Prof. Doutor Afonso Farias

Muito tempo faz... Sentado na sala de casa, uma televisão, imagem em preto&branco. Assistia-se a um jogo. Não era um jogo qualquer, era a seleção brasileira que se apresentava. 

Dez jogadores de linha e um goleiro no time principal. Conhecidos por suas qualidades excepcionais, os jogadores de linha desfrutavam de enorme fama, mas somente alguns – bem poucos – fizeram fortuna.

O goleiro era maravilhoso, mas criticado à época. Pessoa esforçada, humilde e séria. Todos sabiam do seu denodo, da sua competência e da sua vontade de vencer e contribuir para as vitórias do escrete nacional.

Foram  vitoriosos  ao  final,  venceram  todas  as  contendas.  Muitos foram endeusados e outros praticamente olvidados. O goleiro parece que foi um desses.  Romântico, amoroso e pessoa divertida, todos gostavam dele. Nunca economizava gentileza e simpatia.

O arqueiro era natural de Caratinga, em Minas Gerais, e defendeu Juventus, Portuguesa e Nacional, em São Paulo, e o Fluminense, no Rio de Janeiro. Foi atuando pelo clube carioca que ele acabou convocado para a seleção brasileira de futebol. 

Em especial, três jogos marcaram a atuação do atleta naquele julho de 1970: contra os selecionados da Inglaterra, do Uruguai e da Itália. Ele fez  a  diferença  nesses  embates.  Quem  duvidar  pode  assistir  ao  vídeo desses jogos.

Papel (como era conhecido na intimidade) colaborou sobremaneira para  a  conquista  do  tricampeonato  canarinho  no  estádio  Azteca,  na Cidade do México, em 1970. Só aqueles que viveram o momento sabem da importância da Taça Jules Rimet para o futebol do Brasil.

Atleta disciplinado e elegante sob as balizas,  Félix recebeu outro prêmio  significante  em  1970:  o  Belfort  Duarte,  que  homenageava  o jogador de futebol profissional que passasse dez anos sem ser expulso, tendo jogado pelo menos 200 partidas nacionais ou internacionais.

Como atleta, Papel foi campeão do Estadual do Rio de 1969, 1971, 1973, 1975 e 1976, além do Torneio Roberto Gomes Pedrosa em 1970.

Tempos  depois,  Félix  Miéli  Venerando,  para  sustentar  a  família, trabalhou na loja Ponto Frio, no Rio de Janeiro. Era mais um empregado com  mechas  brancas  nas  laterais  da  cabeça  e  óculos  pendurado  no pescoço. Ninguém (ou quase ninguém) sabia quem era aquele senhor.

Naqueles dias, por acaso, souberam do novo emprego do atleta e tentaram fazer  uma  matéria  com o  goalkeeper,  mas a  reportagem  foi negada pela chefia da redação de um grande jornal de circulação nacional.

No fundo, eles achavam que aquele sujeito não estava com essa  bola toda, talvez pensassem que ele nem a merecia.

Esse é o reconhecimento que recebem nossos ídolos, muitos deles atletas  responsáveis  e  que  proporcionaram  inúmeras  alegrias  ao  povo brasileiro.  São  jogados  ao  léu,  afastados  do  convívio  esportivo  e depreciados no lugar comum.

Parte  da  amargura  de  Félix  foi  compensada  pela   Lei  Geral  da Copa/2012, cujo texto incluiu os benefícios aos campeões mundiais pela seleção, de 1958 até 1970 no México. Depois disso, ele pode receber auxílio financeiro para tratar da sua doença incurável: enfisema pulmonar, a qual o contratou, em 24 de agosto último, para atuar em novas plagas.

Bom pai, marido, avô e atleta, hoje, Papel joga no Paraíso Futebol Clube,  no  Éden.  Obrigado  pela  alegria  proporcionada  e  por  ter  feito milhões de brasileiros orgulhosos naqueles dias (e até hoje) de 1970. Você não  viveu  em  vão...  Segue  em  tuas  defesas  e  também,  se  puderes, defende  a  todos  nós.  Um  abraço  forte  de  seus  admiradores,  meu camarada.
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