Correio Braziliense
Conselheiro do governo sobre competitividade, empresário Jorge Gerdau diz que país precisa evitar desperdícios na máquina pública e defende que benesses para servidores têm de ser limitadas
Principal conselheiro da presidente Dilma Rousseff nas áreas de gestão e de competitividade, o empresário Jorge Gerdau defendeu ontem uma negociação do Planalto com os servidores em greve baseada na análise da realidade da economia, do contexto internacional e, sobretudo, do caixa do Executivo. "As reivindicações devem ser ouvidas, mas cabe também ao governo a enorme responsabilidade de buscar um ponto de equilíbrio entre demandas e receitas", declarou ao Correio. Ele ressaltou que a carga tributária do país já é elevada em razão de carências sociais e que não pode subir mais.
Gerdau evitou comentar os duros embates entre Dilma e dezenas de categorias do funcionalismo, lembrando que o assunto é "espinhoso demais" e que "compete a outros atores". Contudo, durante palestra para servidores no Palácio do Planalto na manhã de ontem, revelou impressões e ainda deu dicas de austeridade para a administração federal. "Qualidade exige disciplina", provocou.
A partir da máxima "fazer mais com menos", já adotada pela ministra do Planejamento, Miriam Belchior, o executivo lembrou que o "Brasil é pobre" e, por isso, "não pode distribuir benesses acima do que fazem os países ricos", citando como exemplo a aposentadoria de professores com 25 anos de carreira. "Receber benefício integral com esse tempo de contribuição não permite que as contas fechem. Ser bonzinho é fácil, mas é preciso ver o todo", sentenciou.
"O governo é, na prática, um grande prestador de serviços e sua gestão precisa ser eficiente", explicou. Para isso, acrescenta ele, o servidor precisa ter foco centrado no cliente, "o cidadão, aquele que paga a festa". Para justificar a importância de sua pregação em favor da adoção, pelos governos, de sistemas de gerenciamento aplicados há décadas na indústria, Gerdau alertou que desperdícios na máquina pública podem "levar o Brasil a virar uma Grécia piorada". A falência do Estado ocorre, segundo ele, quando não se presta atenção a todas as realidades envolvidas.
Mentor das concessões
Ao longo de pouco mais de um ano como presidente da Câmara de Políticas de Gestão, Gerdau ganhou importância como mentor de ações estratégicas do governo. Ele revelou ter estimulado a decisão de Dilma de buscar capital privado para a infraestrutura logística ao comparar a necessidade de investimentos em rodovias, ferrovias, portos e aeroportos (R$ 300 bilhões) com o orçamento anual do Ministério dos Transportes (R$ 14 bilhões).
Para ele, as concessões de rodovias e ferrovias anunciadas na semana passada são uma resposta à desaceleração da economia internacional baseada no investimento direto e "já modificaram as expectativas do mercado". "O Brasil, comparado a outros países, está conduzindo bem a saída da crise", disse. O empresário acredita que o pacote para portos e aeroportos, a ser anunciado em setembro, deverá priorizar "a redução de custos".
Ele aponta, contudo, o sistema educacional como maior gargalo da economia. "Governo e grandes empresas contratam a nata do trabalhador e não conhecem o analfabeto funcional. Como elite, não podemos nos conformar com a baixa qualificação da maioria da mão de obra", finalizou.
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