terça-feira, 21 de agosto de 2012

Acreditar no Brasil é um bom negócio



Jorge Hereda
Valor Econômico

 

É princípio estabelecido pelo senso comum que ações táticas se dão em curto espaço de tempo e planejamentos estratégicos demandam prazo mais longo para sua realização. A Caixa Econômica Federal conseguiu subverter esse conceito. No dia 9 de abril anunciamos o lançamento do programa "Caixa melhor crédito" e explicamos que, com esse rótulo, estávamos adotando uma estratégia que consistia na redução dos juros, com o objetivo de fazer crescer a base de clientes, ampliar a concessão de crédito e, com isto, ganhar mercado com a manutenção do lucro nos níveis de 2011.

Exatos 113 dias depois -quase nada para horizontes estratégicos- podemos afirmar que nosso projeto alcançou resultados esplêndidos. Os números não deixam dúvida de que o desempenho da Caixa é consequência direta da política de juros adotada há pouco mais de três meses.

Inadimplência é maior em carteiras de crédito que não se renovam, pois ficam estagnadas e contaminam o índice

Nossa carteira de crédito cresceu 44,6% no semestre, muito acima da previsão de crescer 33% em todo o ano de 2012. Na comparação entre o primeiro semestre deste ano e igual período do ano passado, o lucro da Caixa aumentou 25,2%. Já trabalhamos com a expectativa de aumentar a carteira em 42%, fechando o ano com a expressiva quantia de R$ 320 bilhões em contratação de crédito.

Os nossos clientes e os clientes que migraram para a Caixa entenderam o recado: no primeiro semestre deste ano foram abertas 1,132 milhões de novas contas correntes, 27% mais que no primeiro semestre de 2011. Estes novos clientes vieram em busca de um novo tratamento, de taxas mais baixas, prazos mais longos e de tarifas mais justas. Encontraram o que queriam. E retribuíram, pagando em dia suas dívidas.

É justo que se diga que pode ser contraditada ou pelo menos discutida a tese segundo a qual os bancos estariam sendo prejudicados em seus lucros pela inadimplência, que os obrigaria, "naturalmente", a segurar o dinheiro, mantendo os juros ainda em níveis altos. Em algumas modalidades de crédito isto pode ter acontecido, e o financiamento de carros foi uma delas. Mas, de maneira geral, a inadimplência parou de subir e, mais recentemente, começou a registrar ligeira redução. Se encaminha para o encerramento de um ciclo, depois do qual deve entrar em queda mais acentuada, provavelmente entre o final do ano e o início de 2013.

É bem verdade que diminuiu muito mais entre os clientes da Caixa - e não só porque eles sejam bons pagadores. A inadimplência na Caixa se manteve em 2% - mesmo desconsiderando o crédito habitacional, em que tradicionalmente é baixa - por uma razão simples e até cartesiana: a Caixa empresta mais, empresta a mais gente e cobra mais barato pelo dinheiro.

A inadimplência costuma ser maior em carteiras de crédito que não se renovam, justamente porque as dívidas não-pagas ficam estagnadas e contaminam o índice. Carteiras renovadas pela redução dos juros e oxigenadas pelo oferecimento de crédito a novos clientes tendem a registrar inadimplência menor. Em poucas palavras: ofereça crédito mais barato e será mais fácil cobrar a dívida. Aconteceu com a Caixa, pode acontecer com todos os bancos, desde que ganhe acolhimento a ideia de que não se faz lucro apenas com spreads altos. Recusar crédito por medo da inadimplência pode acabar provocando... aumento do índice de inadimplência.

A Caixa conseguiu comprovar, com o resultado do segundo trimestre, que é possível reduzir juros, ampliar a base de clientes, aumentar a oferta de crédito, manter a inadimplência sob controle e ter um bom retorno. Não faz sentido garimpar pretextos para depreciar o desempenho da Caixa. O bom resultado ocorre justamente num trimestre em que, segundo levantamento feito pelo Valor, das 153 maiores empresas brasileiras com capital em bolsa, 92 tiveram piora em seus lucros e 43 amargaram prejuízos.

Também é justo que se diga que, mesmo diante do quadro verificado por este jornal, os bancos não têm tanto do que se queixar. No ranking global, os grandes bancos brasileiros continuam entre os de maior lucro líquido no mundo no segundo trimestre do ano.

Não há excesso de otimismo em afirmar que, depois de um semestre de baixo crescimento, a economia brasileira começa a mostrar sinais de recuperação, deve fechar o ano com um nível razoável de expansão e apresentar índices bastante favoráveis em 2013. Este movimento é crucial para o país. Depende de investimentos, que o governo tem anunciado, sobretudo em infraestrutura e logística, mas também depende de uma atitude corajosa da iniciativa privada e, especificamente em relação aos bancos, solicita que façamos a nossa parte: emprestar mais dinheiro com responsabilidade. Negar crédito à população agora é atuar contra a economia e não aproveitar o momento oportuno para o crescimento.

A Caixa se considera um banco comprometido com o crescimento econômico. No primeiro semestre do ano, injetou R$ 226 bilhões na economia - 24,4% mais do que no ano passado. Até o fim do ano serão cerca de R$ 500 bilhões em crédito habitacional, para empresas, pagamento de benefícios, programa Minha Casa Minha Vida, saneamento, obras do PAC, entre outros.

A Caixa se considera o banco da nova classe média. Embora possua clientes de todas as faixas de renda e se sinta honrada de ter como correntistas praticamente todas as grandes empresas do país, a Caixa tem sido o banco que conta com a preferência dos mais de 40 milhões de brasileiros que ascenderam socialmente na última década. Muitos deles vieram para a Caixa, como pessoas físicas ou como empreendedores. Mais de 30% dos recursos destinados a empréstimos pela Caixa no primeiro semestre financiaram capital de giro de micros e pequenas empresas.

A estratégia bem sucedida dos últimos 113 dias pode ajudar a criar um novo paradigma para os juros praticados no Brasil. É claro que se pode argumentar que 113 dias é pouco tempo para construir tantas certezas, mas não custa lembrar que na crise de 2008 também foi assim que o país superou as dificuldades. Na época, muita gente achava que era hora de se retrair. A Caixa incentivou o crescimento do crédito e de lá para cá só tem obtido bons resultados.

O certo é que estes 113 dias permitem afirmar que acreditar no Brasil é um bom negócio.

Jorge Hereda, mestre em arquitetura pela FAU/USP, entrou na Caixa em 2005 e desde 2011 ocupa a presidência da instituição.
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