Daniel Feffer
Valor Econômico
Nos últimos anos, o setor de papel e celulose tem sido um dos maiores colaboradores dos avanços ambientais e biotecnológicos no país. As florestas plantadas de eucalipto, por exemplo, têm prestado importante serviço para a conservação ambiental. Juntas, as empresas desse setor são responsáveis por uma área de conservação que chega aos 2,6 milhões de hectares (equivalente a mais de 250 mil campos de futebol), abrangendo a totalidade das áreas de preservação permanente e as de reserva legal.
Não há a menor dúvida que isso, por si só, é motivo de orgulho para os brasileiros, pois além de sermos hoje o maior produtor mundial de celulose de fibra curta somos, também, um dos setores que mais investe em sustentabilidade. Esse considerável avanço ainda não é, contudo, suficiente para quem tem como meta contribuir intensamente, e muito mais, para o crescimento do país.
Nos últimos anos, têm sido desenvolvidos diversos estudos e realizados muitos experimentos na área de tecnologia arbórea, garantindo às principais empresas que atuam no setor florestal brasileiro o conhecimento necessário para gerar um desenvolvimento sustentável efetivo; em outras palavras, isso significa obter o máximo de aproveitamento da matéria-prima (eucalipto) e gerar o mínimo possível de impacto. Mas a utilização desse conhecimento depende da aprovação dos órgãos de controle para que se possa passar à escala comercial.
É válido considerar apoio governamental para alternativas que tornem a economia verde uma realidade
É importante destacar que essas tecnologias a que nos referimos estão diretamente atreladas a aumentos de produtividade e à melhoria da competitividade nacional; entre outras, merecem ser citadas aquelas relacionadas ao controle de pragas, ao aumento do potencial de produtividade da madeira, à redução do consumo de recursos naturais; enfim, todas visam atender às demandas geradas a partir do constante incremento da população mundial. Não é por outro motivo que estão vinculadas ao programa 4 F - Food, Fuel, Fiber, Forests (comida, combustível, fibra e floresta).
Com o avanço da biotecnologia e com todos os seus usos aprovados e regulamentados, é possível apostar num constante crescimento de produção cada vez mais sustentável, sem que ocorra o esgotamento das fontes de matérias-primas.
Se o Brasil teve arrojo e competência para ser o pioneiro no uso do eucalipto como matéria-prima da celulose de fibra curta e, em menos de quatro décadas, conseguiu assumir a liderança mundial na produção dessa commodity, sem se valer de toda a tecnologia hoje conhecida, o que acontecerá ao nosso país quando puder utilizar todo o know how técnico que já possui e que, até agora, se restringe ao ambiente laboratorial?
A biotecnolgia deverá exercer no futuro, na área florestal, o mesmo papel que vem desempenhando na agricultura: aumento de produtividade, redução de uso de insumos e de recurso naturais, de maneira geral. A biotecnologia é fundamental para a sustentabilidade do planeta. E a decisão brasileira de tratar tais assuntos sob a ótica científica é correta e dá mais força ainda em nosso posicionamento como referência para o mundo todo.
Existe uma medida métrica utilizada para comparar as emissões de vários Gases de Efeito Estufa (GEE) que é a CO2 e. Este dióxido de carbono equivalente é o resultado da multiplicação das toneladas emitidas de GEE pelo seu potencial de aquecimento global. Por exemplo, o potencial de aquecimento global do gás metano é 21 vezes maior do que o potencial do CO2. Então, dizemos que o CO2 equivalente do metano é igual a 21.
Essa explicação é importante porque o setor florestal brasileiro já dispõe de ferramentas para apresentar mais e mais contribuições para o meio ambiente, dentre as quais auxiliar na política de controle de mudanças climáticas. E existem grandes oportunidades nessa seara; por exemplo, estimativas baseadas em metodologias consolidadas indicam que o setor de base florestal brasileiro estoca aproximadamente 1,3 bilhão de toneladas de CO2 equivalente (tCO2 e), considerando somente os estoques de carbono nas áreas de florestas plantadas.
Porém, esse carbono ainda não é reconhecido e considerado pelas principais metodologias de inventário de emissões. A Bracelpa, entidade que representa o setor brasileiro de papel e celulose, já vem há algum tempo apresentando as vantagens e os benefícios de uma abordagem mais ampla, uma vez que a busca por uma economia de baixo carbono deve gerar novas oportunidades para países como o Brasil, que dispõem de grande volume de florestas nativas. E plantadas.
Neste período mais recente, o governo brasileiro vem adotando ferramentas de incentivo ao consumo, de expansão de crédito e de reduções de impostos; mas é igualmente válido considerar apoio consistente ao setor industrial e a discussão de alternativas tecnológicas para redução de impactos socioambientais, até para que mais caminhos para uma economia verde tornem-se realidade.
Nosso país dispõe de dimensões continentais, elevadas áreas agriculturáveis, forte vocação agro-florestal, extensas matas nativas preservadas, liderança mundial em celulose de fibra curta, referência no manejo florestal. Com as pesquisas e os estudos que são desenvolvidos, semelhantes àqueles feitos pelos países desenvolvidos, o Brasil tem todas as condições para ocupar o papel que lhe cabe, o de protagonista nesse cenário.
Daniel Feffer é vice presidente corporativo da Suzano Holding e presidente do Instituto Ecofuturo
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