Um artigo lúcido, necessário de um dos que seria o melhor dentre os Min de Educação que já tivemos que Lula, com aprovação final de 83%, despediu com um simples telefonema.
Explica-se, com este artigo, acerca de um resultado que se apresenta por igual há anos que, apesar de todas as dificuldades estruturais que hoje enfrentamos, o brasileiro ainda aprova um governo que o mantém na ignorância e dependência cultural e intelectual.
Futuro reprovado
CRISTOVÃO BUARQUE
O GLOBO
O Brasil foi reprovado no vestibular para o futuro. Porque o futuro tem a cara de sua escola no presente. Nas últimas séries do nosso ensino fundamental - as escolas públicas, onde estuda a maior parte de nossos alunos -, a média do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) foi de 3,9. As escolas particulares foram aprovadas, mas com a sofrível nota 6. A média ponderada pelo número de alunos é de 4,1, envolvendo 1,8 milhão de alunos nas particulares com a média 6,0, e 12,4 milhões de alunos, nas públicas, com média 3,9.
No ensino médio, a média ponderada, incluindo as particulares é de 3,7.
Além da reprovação geral, o Ideb mostra que o Brasil é dividido pela desigualdade na educação dos filhos dos pobres e dos filhos das classes médias e altas. Na mesma semana, o "Jornal Nacional", da Rede Globo, mostrou a situação de nossas escolas, passando a sensação de que assistíamos a notícias de um terremoto, que está a devastar nosso futuro. Outro programa, o "CQC", da Rede Band, mostrou escolas em uma cidade do Piauí, certamente piores do que as piores do mundo. Foi possível ver o futuro. E não pareceu bonito.
Apesar disso, o MEC comemorou os resultados e ainda divulgou nota à imprensa, no dia 14 de agosto, dizendo que "o Brasil tem motivos a comemorar". O ministro está no cargo há apenas oito meses e não tem culpa por este desempenho, mas deveria reconhecer a tragédia, a vergonha e convencer a presidente da República a fazer pela educação o esforço que vem fazendo na economia. A presidente precisa entender a gravidade da falta de infraestrutura educacional, ainda maior do que foi a falta de infraestrutura física, e convocar todo o país a se empenhar por uma urgente revolução na educação de base. Enquanto o Brasil traça meta para o Ideb alcançar a nota 6,0 em 2021, a China está programando voo tripulado à Lua, antes de 2020.
Análise cuidadosa mostra que, na média, as escolas públicas federais se saem melhor do que as particulares. A melhor nota, 8,6, foi obtida por duas escolas particulares: Escola Santa Rita de Cássia e Escola Carmélia Dramis Malaguti conseguiram o primeiro lugar com nota 8,6. Logo em seguida uma federal; o Colégio de Aplicação da UFPE teve nota 8,1; e a média das públicas federais do ensino fundamental (6,3) foi superior à das escolas particulares (6,0).
Isso mostra que o caminho para fazer a revolução educacional que o Brasil precisa passa pela ampliação da presença federal na educação básica. A federalização exige um ministério para cuidar apenas da educação básica; a implantação de uma carreira federal para os professores; e a responsabilidade da União sobre a qualidade de cada escola, todas em horário integral. Isso pode ser feito por cidade, chegando a todo o Brasil no prazo de 20 anos.
Isto pode ser feito. Até porque o futuro tem a cara de sua escola no presente. E a cara de nossas escolas mostra um futuro reprovado.
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