Foi um discurso inclusivo. Dilma disse que é presidente de todos os brasileiros, que vai defender a democracia, a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa, os contratos, a estabilidade econômica. Ela se comprometeu com um programa que é do País, não de uma facção, não de um partido.
Dilma foi mais longe e agradeceu os eleitores da oposição e até mesmo os partidos de oposição. Quase disse a frase fundamental: a oposição é tão importante quanto o governo numa democracia. Se tivesse dito, parte do discurso chegaria à perfeição, do ponto de vista do que se pretende de um presidente de um país inteiro.
Ao mesmo tempo, por outro lado, ela pronunciou aquela narrativa que já se tornou padrão no atual governo - a de que a história do Brasil começou com Lula. Nas palavras infelizes que utilizou, a "genialidade" de Lula produz o desenvolvimento. É como se nada houvesse antes: a redemocratização, o plano real. Tudo se passa como se o governo Lula não estivesse inscrito numa trajetória histórica da Nação.
Essa forma de dividir a história em antes de Lula e depois de Lula, a.L. e d.L., contradiz todo o resto do discurso. A mensagem, enfatizada por um coro partidário que entoava o nome do "presidente salvador", funcionou como uma borracha, quase apagando o texto precedente. A melodia sobre o Líder e o Povo, assim com maiúsculas mesmo, sobre "o povo de Lula", entra em conflito com o discurso de princípios, que fala de democracia, de instituições, de liberdades, de contratos, de cidadania, de Constituição.
Um discurso bipartido, organizado sobre dois polos mutuamente excludentes. Há aquilo que se pretende afirmar e aquilo que se afirma sem se pretender. Essa é a contradição que vai demarcar o governo de Dilma. No fim, ela terá que escolher uma via ou a outra.
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