ALBERTO TAMER
O ESTADO DE SÃO PAULO
Há alegria nas relações comerciais entre Brasil e China. Promessas de investimentos de todos os lados e importação de produtos industrializados: US$ 1 bilhão, só em compra de aviões da Embraer. O gaiato presidente da Foxconn, maior fabricante mundial de eletrônicos, Terry Gou, nem corou ao informar à presidente que a empresa vai investir nada menos que US$12 bilhões na construção de uma fábrica no Brasil. Não parou aí, disse que vai contratar, acreditem, 100 mil empregados, dos quais 20 mil engenheiros, e criar uma cidade virtual! Isso, quando todo o setor eletroeletrônico, no País, emprega hoje 178 mil pessoas. Conversa fiada. Ninguém acreditou, mas o anúncio fantasioso virou manchete dos jornais.
Somando tudo o que se anunciou e prometeu em Pequim, os novos investimentos chineses (a Foxconn é taiwanesa, mas fabrica na China e em mais outros países) chegariam perto de US$ 13 bilhões. E vem mais...
É bom lembrar que a Foxconn é aquela empresa em que trabalhadores se suicidaram, atirando-se dos últimos andares da fábrica por causa de péssimas condições de trabalho. Depois, dobrou os salários e contratou monges budistas para "espantar o azar". Quem será que vão contratar aqui?
É tanto dinheiro que o Banco Central vai ter de administrar mais essa avalanche de dólares. Mas não precisa se preocupar, não, pois tudo isso está apenas no item "promessas". Os US$ 12 bilhões da Foxconn não devem passar de US$ 3 bilhões, se tanto, e quanto aos aviões da Embraer é preciso primeiro ver o passado para acreditar no presente.
Uma história muito triste. A empresa brasileira foi para a China, associou-se à estatal Avic (dizem que não é, mas é), que era social, mas competidora e transferiu tecnologia. A China passou a fabricar seus próprios aviões e bloqueou a Embraer. Sim, a tal ponto que estava prestes a fechar sua fábrica. Jogo sujo? Não. Ingenuidade nossa e esperteza deles que agem assim em todas as áreas. E agora, por grande pressão do governo brasileiro, a China promete comprar aviões da Embraer, ressuscitando a fábrica local. Há mercado para todos. Está tudo lá, na "carta de intenções..."
Será? Aqui, há dúvidas, muitas dúvidas. A correspondente, Claudia Trevisan e a enviada do Estado a Pequim, Vera Rosa, mostram que nem tudo é bem como parece. Para produzir aviões lá, a Embraer vai ter de importar componentes. E para cada item, haverá, como agora, todo um processo burocrático com a lentidão ditada pelos chineses. E eles são mestres em defender sua indústria e proteger seu mercado.
O caso Embraer é importante, pois trata-se do único produto de valor agregado que o Brasil pode exportar para a China. Nos outros, não temos competitividade nem mesmo para nos defender da invasão chinesa no mercado interno.
A viagem foi um êxito. Não há dúvida que a viagem à China da presidente brasileira e mais de 300 empresários foi um êxito. Na nova diplomacia brasileira de falar menos e obter mais resultados. Mas é preciso separar promessas dos fatos. Agora é seguir passo a passo e cobrar resultados.
Petróleo acima de tudo. Que ninguém se iluda. Ao lado do minério de ferro, a China quer mesmo é o petróleo do pré-sal. De acordo com a Petrobrás, os EUA e a China vão absorver em dois ou três anos quase todo o petróleo excedente do pré-sal.
Aqui, o perigo. Existe, sim, e é grave. Atentem para isto: "o petróleo não cria riqueza onde é extraído, mas onde é refinado e consumido". O que a China, os EUA e outros querem é o petróleo bruto - que sai dos poços em volume controlado por computadores - para refiná-lo e consumi-lo em seus países. A Petrobrás tem até refinarias lá fora para isso.
A presidente Dilma Rousseff já afirmou que o Brasil precisa refinar e exportar mais derivados e menos petróleo. Só que os nossos consumidores também querem isso. E estão conseguindo até agora porque há décadas não se constrói refinarias no País e as poucas existentes são para operar com petróleo leve que só agora - depois de 50 anos!!!! - a Petrobrás descobriu no pré-sal.
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