sexta-feira, 22 de abril de 2011

O Centro-Oeste e o capital institucional

 Paulo R. Haddad
O Estado de S. Paulo



Há dezenas de municípios do Centro-Oeste brasileiro que se especializaram na produção de grãos e carnes e que vêm crescendo razoavelmente ao longo do tempo. Todos os indicadores de crescimento econômico lhes são favoráveis. Expandem-se o PIB per capita, a base tributável, a renda e o emprego. Entretanto, esses municípios têm imensas dificuldades para se desenvolver do ponto de vista socioambiental: dificuldade para transformar um status de crescimento econômico num contexto de desenvolvimento sustentável.

Basta comparar os seus indicadores de desenvolvimento com os indicadores de municípios do meio-oeste norte-americano, com tamanho, estruturas produtivas e grau de especialização semelhantes. Faltam-lhes os elementos necessários e suficientes para diversificar sua base produtiva, para adensar suas cadeias produtivas e para diferenciar os seus produtos. Ficam vulneráveis às intensas flutuações de preços das commodities em que se especializaram. Uma queda brusca nos preços e nos mercados dessas commodities e os efeitos multiplicadores passam a funcionar com sinal negativo.

Frequentemente, a escolha das estratégias das empresas na fronteira agrícola do Centro-Oeste se volta para a produção de segmentos pouco sofisticados do mercado, aqueles que se baseiam em fatores produtivos não especializados: disponibilidade de recursos naturais de melhor qualidade, clima, abundância de mão de obra não qualificada, posição geográfica, etc. Por exemplo: há mais de 110 produtos potenciais nos segmentos para a frente da cadeia produtiva de soja em que os municípios do Centro-Oeste poderiam competir. Entretanto, quando se observa a sua estrutura produtiva, quase todos se dedicam às atividades da cadeia produtiva nas quais menos se agrega valor econômico relativamente: grãos, farelos e óleos.

O que falta, pois, para que as estratégias de escopo dos produtores do Centro-Oeste não se limitem só à redução dos custos do que produzem e busquem a diferenciação inovadora dos seus produtos visando a comandar um prêmio nos seus preços, ganhar fatias crescentes dos mercados, resistir mais fortemente às flutuações cíclicas e sazonais dos mercados e reduzir sua dependência das benesses dos governos? Diferenciar para competir; inovar para progredir; adotar estratégias de escopo que ampliem a liberdade de escolha.

Um ponto crítico é a ausência num grande número de municípios do Centro-Oeste dos chamados capitais intangíveis. O capital físico, formado por máquinas, equipamentos e infraestruturas, é uma condição necessária, mas não suficiente, para que um município ou uma região se possa desenvolver. O desenvolvimento, como afirma Celso Furtado, é principalmente um processo de ativação e canalização de forças sociais, de melhoria da capacidade associativa, de exercício da iniciativa e da criatividade. Portanto, trata-se de um processo social e cultural, e apenas secundariamente econômico. Assim, o desenvolvimento de uma região ou localidade, no longo prazo, depende profundamente da sua capacidade endógena de organização social e política para modelar o seu próprio futuro, o que se relaciona, em última instância, com a disponibilidade de diferentes formas de capitais intangíveis na região ou localidade (capital humano, capital social, capital cultural, etc.).

Entre essas formas se destaca o capital institucional. Este é formado pelas instituições ou organizações públicas (três níveis de governo) e privadas (segundo e terceiro setores): o seu número, sua qualidade, o ambiente de relações interinstitucionais (cooperação, tensão e conflito, parceria ou neutralidade, etc.), o seu grau de dinamismo e de modernidade. Há um certo consenso entre muitos analistas, que diferenças nas instituições econômicas são a causa fundamental de diferenças no desenvolvimento de países, regiões e localidades. Bom governo, boas escolas e bons empreendedores, e não apenas máquinas modernas e recursos naturais de qualidade, fazem essas diferenças.
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