sábado, 16 de abril de 2011

China, pão e liberdade


CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SÃO PAULO

SANYA, CHINA - Vista com olhar estrangeiro, a China não parece nem remotamente candidata a ser uma das próximas vítimas (ou beneficiárias, ao gosto de cada um) dessas rebeliões em marcha no mundo árabe/muçulmano.
Fica parecendo imune a qualquer rebeldia essa estranha combinação entre o governo de um partido que ainda se diz comunista e lojas até de Lamborghini na avenida principal (se é que há uma só avenida principal em uma cidade tão gigantesca como Pequim).
Mas há, sim, o receio de que algo ocorra por aqui. Um microexemplo foi vivido por uma correspondente estrangeira em Pequim muito recentemente: chamada para advertência por ter se atrevido a tentar cobrir uma suposta manifestação convocada pelas redes sociais, ouviu uma arenga em que não faltou a observação de que jamais ocorreria algo parecido na China, porque o povo ama o partido.
Sempre desconfio de quem enche a boca para falar em nome do povo, mas, dado esse desconto, razões até haveria para amar o regime: o crescimento econômico é espetacular, como todo o mundo sabe, o que levou a içar da pobreza 550 milhões de pessoas em duas décadas (um nada na milenar história chinesa).
"Só o desenvolvimento econômico durável permitirá aos países da região [o Oriente Médio] resolver todas as contradições sociais e melhorar o bem-estar do povo", afirma recente editorial do "Diário do Povo", o órgão oficial do Partido Comunista Chinês.
Vale para o Oriente Médio, vale para a China: progresso econômico é tudo, liberdade é apêndice.
Duas dúvidas decorrem daí:
1 - Quão durável será o desenvolvimento econômico chinês, no ritmo dos últimos muitos anos?
2 - No Oriente Médio, o desejo de liberdade parece ter pesado mais que o grito pelo pão nas revoltas recentes ou ainda em curso. Serão os chineses diferentes?
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