O Globo
Areal motivação da chacina de Realengo ainda é objeto de especulações, mas há sinais incontornáveis que ajudam a montar o quadro com as razões que levaram o assassino a invadir a Escola Tasso da Silveira e matar friamente 12 jovens alunos. O mais evidente, óbvio, deles é que o crime foi praticado por uma pessoa perturbada, com graves problemas mentais. Por tudo o que foi descoberto até agora, com o levantamento dos movimentos do criminoso nos dias anteriores à tragédia e com as pistas por ele deixadas, é impossível fugir desta constatação. Mas isso não invalida a busca por possíveis fatores externos que, combinados com o desajuste psíquico de Wellington, poderiam ter contribuído para dar o impulso homicida que o conduziu às mortes em série no subúrbio do Rio.
Por mais fantasiosa que pareça à luz de uma análise superficial, a polícia não pode abandonar a priori, nas linhas da investigação em curso, a hipótese de que Wellington teria agido movido não só por sua paranoia, mas também, como mórbido suporte a seus delírios, por ligações com algum grupo. As gravações que ele deixou para justificar o massacre, reproduzidas pela TV Globo, afastam quaisquer dúvidas sobre a patológica personalidade do criminoso. Basta analisar as imagens que mostram seu olhar perdido e a ausência de enfatismo nas palavras. Mas igualmente dão margem a variantes que não podem ser desprezadas - caso, por exemplo, de sua confissão de que o crime prestes a cometer seria motivado não só pelo bullying de que supostamente foi vítima na escola.
Há, portanto, indícios que levam para as investigações da chacina a tese de ação ditada pelo fanatismo. É absurda? Que a polícia, então, ponha a hipótese à prova, esgote todas as possibilidades desta e outras causas e apresente à sociedade a comprovação de que, de fato, se está diante de uma fantasia. Não se trata apenas de dar o curso correto às investigações sobre o tenebroso episódio, mas de atender a uma imposição mais ampla, que diz respeito à política de segurança do país: o Brasil vai sediar, em 2014 e 2016, dois megaeventos esportivos que o colocarão potencialmente na rota de ação de grupos que pregam o terrorismo como método preferencial de imposição ideológica. E, desde já, os organismos policiais brasileiros devem passar a atuar sob o pressuposto da prevenção para evitar atentados. Essa cautela passa necessariamente por admitir a viabilidade de riscos, ainda que os perigos não sejam evidentes.
Não há qualquer desígnio, divino ou político, que preserve o Brasil da ação do terrorismo internacional. A revista "Época" registrou o movimento de grupos extremistas no país, tema também de recente reportagem da "Veja", que denuncia a ação de membros da al-Qaeda a partir de São Paulo com o objetivo de preparar atentados de alcance global para a Copa de 2014. Um especialista em segurança observou que o terror não é questão de localização geográfica, mas de oportunidade. Não cabe, portanto, descartar hipóteses sem investigá-las. A boa polícia é aquela que trabalha com todas os cenários - os óbvios e os que parecem absurdos. A violência nem sempre tem uma razão aparente.
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Com certeza a polícia do Rio não tem um caráter preventivo, não analisa as possibilidades. É notória a influencia que o assassino teve, demonstrada nos seus vídeos. A polícia, comandada pela política, segue o raciocínio de seus "comandantes", uma resposta de elucidação pronta e imediata, nem que para isso não seja a real.
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