segunda-feira, 18 de abril de 2011

DISTORÇÃO INTOLERÁVEL


EDITORIAL
ESTADO DE MINAS


Aviação não é mais um transporte com rótulo de elite

No início do mês, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) divulgou números dando conta de que no primeiro trimestre os passageiros em aeroportos já superaram em 10% o número de bilhetes vendidos para viagens de ônibus no país. Nos últimos oito anos, o número de pessoas que agora viajam de avião aumentou 115%, o que significa que a aviação não é mais um transporte com rótulo de elite, mas um meio de uso comum e popular. Companhias aéreas têm oferecido bilhetes a valores módicos para trajetos que cortam o país, muitas vezes com preços mais baixos do que um prato de salada servido nos restaurantes de nossos sempre lotados aeroportos. Em 2007, o apagão aéreo atormentou a vida de milhares de brasileiros e turistas que nos visitam, o que motivou a promessa do governo de maior fiscalização, a cargo da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero). No mesmo ano, o Tribunal de Contas da União (TCU) apontou ilegalidades em obras de oito aeroportos, acusando a Infraero de pagar por serviços não concluídos. Caberia ao Congresso Nacional cobrar pela apuração dos fatos. Contudo, não é isso que vemos na prática. Entre tantas, uma questão deveria merecer prioridade de deputados e senadores: as limitações estruturais dos aeroportos brasileiros, dos quais 13 não estarão prontos para a Copa de 2014, conforme estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). 

Mas não é só isso o motivo de preocupação com o que se passa nos nossos terminais aéreos. Urge uma pressão política sobre a Infraero para que reveja os contratos que estabelecem os serviços terceirizados nos aeroportos, especialmente quanto aos preços praticados pelas lojas, bares e lanchonetes. O preço de um cafezinho, suco, refrigerante ou de uma simples salada pode ser traduzido como um verdadeiro assalto. Ou seja, a aviação civil deixou de ser meio de transporte apenas de gente abonada, tornando-se opção para os mais simples e humildes, mas os preços praticados nas áreas de embarque e desembarque são para quem vive no Primeiro Mundo. Esses estabelecimentos deveriam suprir uma demanda popular. 

Um pai de classe média, acompanhado da família, fica sem alternativa quando o voo atrasa. É nítida a facilidade hoje em viajar de avião, e não há retorno, mas o que este pai vai gastar com um simples lanche para ele, mulher e filhos é uma afronta ao poder do seu bolso. Um simples sanduíche, que custa R$ 2 em qualquer lanchonete de rua, em nossos aeroportos não sai por menos de R$ 6. Uma salada que em qualquer restaurante custaria, no máximo, R$ 10, na praça de alimentação dos aeroportos, custa entre R$ 50 e R$ 60, mais do que uma passagem promocional oferecida pelas companhias aéreas numa viagem de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro. Em outros setores do comércio, essa prática, que limita concorrências, é chamada de monopólio, e o tabelamento de preços abusivos leva o imponente e deletério nome de cartel. Antes de falar em concluir as obras dos aeroportos do país, é preciso dar condições aos cidadãos comuns de transitar por eles usando os serviços oferecidos neles gastando o justo. Bem que o Congresso Nacional poderia, em nome da sociedade, chamar a Infraero às falas, para corrigir tão gritante distorção. 

.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

GEOMAPS


celulares

ClustMaps