terça-feira, 26 de abril de 2011

Na turma do fundão, de novo!

Thomaz Wood Jr.

Em coluna publicada em fevereiro de 2011 (Os desajustados), este escriba comentou as aventuras e desventuras da audaz tribo dos empreendedores. Ocorre que a questão do empreendedorismo não é importante apenas para indivíduos motivados a escapar de patrões neuróticos e empresas nervosas. Trata-se, também, de uma questão de interesse público, foco de políticas de governo. Afinal, o empreendedorismo é uma força vital da economia. A criação de empresas ajuda a gerar empregos, a renovar indústrias e a acelerar o crescimento.

Empreendedorismo pode ser entendido como um processo conduzido por indivíduos com a finalidade de transformar ideias, produtos ou serviços inovadores em negócios rentáveis. Tal processo é complexo e fortemente associado a riscos, dependendo tanto do indivíduo quanto do ambiente empresarial e institucional no qual ele (ou ela) atua. Muitos novos negócios perecem sob o peso da incompetência gerencial de seus donos. Porém, não se pode a eles atribuir 100% da responsabilidade. Mesmo o mais tenaz e preparado dos empreendedores pode sucumbir sob condições desfavoráveis, tais como o custo alto ou a falta de capital, o peso das taxas e impostos, a dificuldade para contratar mão de obra qualificada e a baixa disponibilidade de recursos tecnológicos.

Dada a importância do empreendedorismo para a economia e as dificuldades frequentemente enfrentadas pelos empreendedores, muitos países vêm revendo suas políticas públicas, de forma a pavimentar o acidentado caminho. A questão-chave é: o que deve ser feito?

Em uma conferência organizada pelo Imperial College, rea-lizada, em junho de 2010, em Londres, Zoltán J. Acs, da George Mason University, nos Estados Unidos, e László Szerb, da University of Pècs, na Hungria, divulgaram trabalho científico introduzindo um novo índice, destinado a medir o grau de empreendedorismo. Os pesquisadores também mostraram sua aplicação a 71 países.

O Global Entrepreneurship and Development Index (Gedi) é calculado a partir de 18 variáveis individuais – por exemplo: percepção de oportunidades, habilidades para criar negócios e valorização do empreendedorismo – e 16 variáveis institucionais – como porte do mercado, nível de corrupção e grau de liberdade econômica. O trabalho de Acs e Szerb não traz soluções fáceis nem está livre de críticas, mas mostra com lente panorâmica o estado das coisas.

No ranking, Dinamarca, Canadá e Estados Unidos são os campeões. Comprovou-se a relação entre o nível de empreendedorismo e o grau de desenvolvimento econômico. De fato, países- em estágios mais avançados de desenvolvimento apresentam valores superiores em praticamente todos os indicadores individuais e institucionais.

Em entrevista concedida à BBC, Erkko Autio, da equipe de pesquisadores do Gedi, comentou o caso da Dinamarca, o melhor país do mundo para abrir um novo negócio. Segundo Autio, sua combinação de mercado aberto, regulamentação econômica inteligente, alta qualificação da mão de obra e atitude positiva em relação a abrir novos negócios é imbatível. O pesquisador acrescentou que dinheiro é importante, mas não faz milagres. Para estimular o empreendedorismo e colher seus frutos, é preciso fomentar uma combinação virtuosa de fatores.

No mesmo ranking, os BRIC desapontam. A China vem na frente, porém, em um modesto 40º lugar. O Brasil é o 55º, logo atrás da Índia (54º) e alguns postos acima da Rússia (58º). O celebrado bloco fica bem atrás da Coreia (20º) e do Chile (26º). No fim da fila, vêm Irã (69º), Filipinas (70º) e Uganda (71º).

Os autores aplicaram à amostra uma análise de clusters, uma técnica estatística que permitiu identificar cinco grupos de paí-ses com características comuns, as quais correspondem a diferentes estágios de desenvolvimento. O Brasil ficou na turma do fundão, na companhia de 19 outros países, entre os quais Argentina, Irã e Venezuela. O grupo é caracterizado pelos pesquisadores como apresentando um estágio inicial de desenvolvimento. Os países desse grupo não costumam gerar novos conhecimentos ou inovações. Eles competem com commodities ou com produtos de baixo valor agregado, aproveitando a vantagem de seus custos baixos de produção. Os empreendedores desses paí-ses são punidos por uma baixa rede de apoio, pela má qualidade dos recursos humanos, pela falta de tecnologia, pela baixa internacionalização e por uma falta crônica de capital de risco. Significativamente, alguns especialistas afirmam que, para ser empreendedor em contextos tão desfavoráveis, é preciso dosar competência e coragem com certo grau de irresponsabilidade. Iniciar negócios na turma do fundão realmente não é fácil. •


Thomaz Wood Jr.  thomaz.wood@fgv.br

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