domingo, 17 de abril de 2011

A seta e a estrela


CARLOS HEITOR CONY
FOLHA DE SÃO PAULO 

Vou forçar a barra, mas deu vontade de fazer uma aproximação entre a cena do Natal, tal como é narrada por Lucas, com a informática e, em especial, com a internet.

Há 2.000 anos, era impossível imaginar um computador, a setinha do cursor vagando pelo espaço finito da telinha, indicando o que desejamos ver ou achar.

Em 2001, quando as torres do WTC estouraram, milhões de pessoas em todo o mundo foram para seus monitores e fizeram a setinha do cursor acessar os sites que noticiavam a tragédia em escala instantânea e mundial.

Há 20 séculos, um menino nascia numa gruta de Belém, entre um burrinho e uma vaquinha. Nada de espetacular. No entanto, milhões de pessoas, ao longo da história, se emocionaram com aquela cena, uma das mais lembradas pelas retinas humanas que se sucederam.

Mas... mas houve uma setinha, em forma de estrela, que rasgou a noite escura do deserto e acessou aquela gruta onde apenas um menino nascia. Adormecidos nos campos, os pastores despertaram com aquela estrela que apontava numa direção. Longe, bem longe dali, três Reis Magos também viram aquela estrela e vieram.
"Vimos a sua estrela no Oriente e viemos" -disseram os Reis Magos. Era um anúncio do mundo virtual 2.000 anos antes da era digital.

Lembro um professor que não era lá essas coisas em matéria de inteligência, mas tinha uma percepção maravilhosa das coisas inexplicáveis. Ele dizia que tudo na vida do homem, na história do mundo, depende de ler os sinais.

No gigantesco monitor do universo, uma seta iluminada em forma de estrela riscou a noite do deserto e indicou a pastores e reis (internautas sem saber) o que estava acontecendo. Eles foram os primeiros a saber. Se foi ou não uma mensagem importante, fica a critério de cada um.
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