terça-feira, 26 de abril de 2011

A corrida contra o tempo para a Copa


O Globo 

As críticas do presidente da Fifa, Joseph Blatter, ao ritmo da preparação do país para sediar a Copa do Mundo não podem simplesmente ser atribuídas a supostos interesses políticos. Se estão ou não contaminadas pelo jogo de bastidores que antecede a sucessão na entidade, as declarações do dirigente encerram uma séria advertência: estados e municípios que se comprometeram com um caderno de encargos (esportivos, urbanísticos e legislativos) precisam correr contra o tempo. Há evidentes atrasos nos cronogramas 

Blatter advertiu: "Gostaria de dizer para meus colegas brasileiros que a Copa de 2014 é amanhã. Os brasileiros acham que ela vai ser depois de amanhã." E, na esteira dessa crítica, mandou uma dura advertência: Rio e São Paulo, as duas maiores e economicamente mais importantes cidades do Brasil, podem ficar fora da Copa das Confederações, em 2013 - o que seria vexatório para um país que tem, na Copa e, dois anos depois, nas Olimpíadas, a chance de mostrar ao mundo capacidade de se inscrever na seleta lista de nações em condições de promover megaeventos. 

A CBF, por óbvio, não gostou das palavras do presidente da Fifa, mas poucos dias depois acabou admitindo: o prazo para a conclusão de obras importantes, como a reforma do Maracanã, teve de ser estendido. É possível que a reavaliação de datas, na esfera esportiva, não altere o calendário com que a CBF e entes federativos se comprometeram. Mas deve-se lembrar que a realização do torneio de futebol (e, igualmente, os Jogos de 2016) é apenas parte dos pacotes. Especificamente em relação ao evento mais próximo, a Copa, há 54 projetos envolvendo intervenções não só nos complexos esportivos, mas também na infraestrutura das sedes - sistema viário, hotéis, aeroportos, segurança etc. É perigosamente sintomático que todos tenham sido reprogramados em relação ao que ficara definido em janeiro passado. 

Em particular, é inquietante a letargia com que se tem tratado a questão da modernização da rede de aeroportos. Eles ocupam lugar de destaque na estrutura de recepção de turistas e delegações, mas o setor patina em entraves burocráticos que atrasam reformas físicas dos terminais e em paralisantes discussões ideológicas sobre a maneira como eles devem ser administrados. 

O governo federal se mostrou inepto como gerente - do que é prova a estrutura assustadoramente ineficaz do Galeão, no Rio -, mas, preso a uma visão política anacrônica e a compromissos clientelistas, relutou em contar com a eficiência da iniciativa privada para revitalizar o setor. Mas a ex-ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, ao assumir a presidência passou a admitir licitações de aeroportos. 

As perspectivas são críticas: mesmo com as obras em curso, Confins, em Belo Horizonte, operará com 153% de saturação; Brasília e Fortaleza, com 118%; Guarulhos (SP) e Cuiabá, com 111%. Por mais que a CBF e o governo tenham se queixado de Blatter, há um quadro preocupante que precisa ser enfrentado com vigor.
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