Dizia um quadro de Jô Soares: "Não leva a máfia para o Brasil porque vai esculhambar com ela"
O texto faz uma análise crítica acerca do oportunismo encontrado à sombra das benesses dos recursos federais
e o pior, não sobra cadeia nem devolução de dinheiro para ninguém
COMBATE AOS OPORTUNISTAS
EDITORIAL
JORNAL DO COMMERCIO (PE)
As organizações não governamentais (ONGs) foram criadas com a missão nobre de preencher a lacuna deixada entre a má prestação de serviços por parte do poder público, e o desinteresse da iniciativa privada em assumir compromissos pouco ou nada rentáveis. No entanto, no Brasil, o surgimento dessas entidades logo foi aproveitada como brecha, pelos oportunistas de plantão, para utilizar programas de cunho social como fachadas para se locupletarem de recursos do erário. E o que é pior: muitas vezes o assalto disfarçado conta com a bênção das autoridades envolvidas na liberação do dinheiro, e até dos partidos a que pertencem.
Apesar de ter servido como motivo de confraternização de ex-comunistas, na transmissão de cargo para o companheiro Aldo Rebelo, a demissão de Orlando Silva do Ministério dos Esportes foi a gota d’água para a presidente Dilma Rousseff solicitar uma devassa nos contratos firmados por todos os órgãos federais com ONGs, ao mesmo tempo em que suspendeu o repasse de recursos para as instituições. Curioso que a indignação que atravessa o PCdoB não atinge a presidente, tampouco o Ministério Público e o Supremo Tribunal Federal, onde as investigações sobre o caso avançaram. O alvo, como sempre, da revolta dos amigos de Orlando Silva, é a mídia, mensageira de um suposto complô destinado a macular a história do partido e a honra de seus integrantes. Que o partido tenha feito repasses para mais de quarenta ONGs em seus programas, e que parcela dos recursos tenha sido frequentemente desviada, nos até agora oito anos de comando nos Esportes, configura mero detalhe.
Sem ser atacada por tal argumento de escape, a presidente da República pretende mostrar mais uma vez que a faxina continua, agora sob a forma de devassa nas relações promíscuas entre o seu governo e o chamado terceiro setor, teoricamente composto por instituições sem fins lucrativos. Vale recordar que, na gestão Dilma, o ministro do Turismo, do PMDB, também foi dispensado depois de denúncias de esquemas parecidos. No Brasil, a imensa dívida social que persiste em detrimento da recuperação econômica, abriu a possibilidade para a atuação de entidades com trabalhos sérios, mas também, infelizmente, gerou a condição propícia para um novo conduto de ladroagem. O decreto de Dilma Rousseff, que suspende e rearruma a concessão dos convênios que fazem a festa de setores do governo e seus aliados, de certo modo contraria a determinação do governo Lula, que não permitiu, até o ano passado, à CPI das ONGs, instalada no Senado, fiscalizar as evidências de mau uso dos recursos federais, que obviamente ali já apareciam. Se der continuidade à intenção de pôr um basta nos oportunistas, Dilma estará dando um passo importante para acabar com a distorção dos “ongueiros filiados a partidos políticos em ONGs que trabalham mais para o partido do que para a sociedade”, como apontou em recente artigo o antropólogo Roberto Da Matta – e em nome da igualdade, se aproveitam da sombra do poder para ampliar a desigualdade, através do golpe torpe da corrupção.
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