GEORGE VIDOR
O GLOBO
O Brasil precisa gerar pelo menos dois milhões de empregos formais por ano para manter os índices de desemprego em patamares baixos e ainda ocupar os jovens entrantes no mercado de trabalho. O percentual da população em idade ativa ocupada está aquém (cerca de 55%) do potencial do país e poderia chegar a 65% à medida que melhorar a qualidade do trabalho.
A remuneração sem dúvida é um forte atrativo, mas existem outras motivações, inclusive de ordem moral e social, para o trabalho. Um exemplo claro ocorreu na fase de reunificação do lado oriental com o ocidental da Alemanha, quando muita gente na antiga parte socialista ficou desempregada, recebendo auxílio do estado enquanto se obrigava a frequentar cursos de reciclagem profissional. Financeiramente, tal auxílio até poderia representar, na prática, um bom reforço orçamentário para a família do desempregado, se comparado à remuneração nos tempos de decadência da Alemanha Oriental. No entanto, estar nessas condições gerava nessas pessoas um sentimento de humilhação e revolta. A maioria preferia receber menos em troca da satisfação de estar ocupado (até hoje existe uma mágoa entre os chamados ossies, habitantes da antiga Alemanha Oriental, que se reflete nas eleições de algumas localidades do leste, onde o partido que substituiu o extinto partido comunista recebe votos bem acima da média nacional).
Voltando ao nosso quintal, o emprego formal certamente representa um salto de qualidade no mercado de trabalho brasileiro em relação ao que ocorria no passado recente. Porém, após um período de carteira assinada, não são poucos os que pedem para deixar o emprego, com objetivo de sacar o saldo do FGTS e passar uns meses às custos do auxílio desemprego. Empresas envolvidas na construção das grandes hidrelétricas do rio Madeira, em Rondônia, tiveram que criar estímulos para manter empregados por mais tempo. Vales extras, proporcionais ao tempo de casa, para compras no comércio local, ou mesmo gratificações são oferecidos nos canteiros de obras.
A tendência é que essa situação se modifique à medida que melhore a qualidade do emprego e do trabalho, e o auxílio desemprego significar uma situação vexaminosa, como na Alemanha recém unificada. Para isso, a economia brasileira precisa crescer a um ritmo além de 3,5% ao ano, desde que esse impulso não cause desequilíbrios relevantes (inflação, déficits preocupantes nas contas externas, etc.).
O ambiente na economia mundial não anda animador, mas o Brasil continua sendo atrativo para investimentos pois é um país em construção. Precisamos de mais moradias, infraestrutura (transportes, energia telecomunicações, saneamento básico), serviços (educação, saúde), entretenimento, e podemos nos financiar oferecendo ao mercado internacional produtos que se mantêm com forte demanda, mesmo em nesse atual ambiente nebuloso. É o caso do petróleo, dos minérios, dos metais, dos alimentos, e mais de um monte de itens.
Em 2012, o Brasil terá um estímulo adicional, que é a contagem regressiva para a realização dos grandes eventos internacionais que vai abrigar, começando pela conferência do meio ambiente Rio+20, com chefes de estado e de governo do planeta inteiro.
Em 2012 o Rio de Janeiro tende a sentir menos que outros estados o impacto negativo dos problemas econômicos na Europa e nos Estados Unidos. Há muitas grandes empresas que estão em fase inicial de montagem de novas unidades (Nissan, Hyundai Equipamentos. Rolls Royce, entre outros) ou ao meio de projetos de expansão. No Rio capital, as obras de infraestrutura e os investimentos privados, alguns preparatórios para os eventos internacionais, devem manter o mercado aquecido. Mas o destaque permanecerá com o petróleo e o seu reflexo na construção naval. O estaleiro Inhaúma, no Caju, entrará em produção, e reviverá os bons tempos da Ishikawajima. No Açu, o grande estaleiro na OSX sairá do papel com o avanço da dragagem do canal de acesso. Empresas de apoio marítimo e fabricantes de equipamentos para as plataformas de petróleo na Bacia de Campos também se instalarão lá. Na esteira do petróleo, em Itaboraí, o complexo de refino e petroquímica entrará em estágio decisivo.
Na área de energia, os equipamentos da usina nuclear Angra 3 passarão a ser montados a partir do segundo semestre. E uma nova termoelétrica, a gás natural, de propriedade da Petrobras, surgirá em Seropédica. A hidrelétrica de Simplício, que está com a primeira das suas turbinas montadas, está à espera de uma linha de transmissão para gerar eletricidade, o que deve ocorrer em março. Logo que a linha estiver apta, o lago junto à barragem na localidade de Anta será enchido. Se for no período de chuva fortes, o enchimento será rápido.
Autoridades e políticos locais terão muitas oportunidades de cortar fitas de inauguração ao longo de 2012.
A mineira Montes Claros é uma das poucas grandes cidades brasileiras que aparece no ranking nacional com 100% de esgotos coletados. Mais interessante ainda é a forma inovadora pela qual a cidade vem tratando esses esgotos. O gás metano da própria estação de tratamento é utilizado para secar o lodo resultante do tratamento, reduzindo em 60% o volume. O fabricante do equipamento é uma empresa nacional, de Santa Catarina. Sem a secagem, o lodo acaba indo para lixões. O lodo que é seco com gás metano talvez possa ser usado como fertilizante: uma pesquisa da Embrapa está avaliando essa possibilidade.
No Rio, há uma estação de tratamento que seca o lodo, porém utilizando gás natural (em vez do próprio gás do esgoto).
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