sábado, 14 de abril de 2012

Badulaques chineses

HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP 

SÃO PAULO - Nesse debate sobre a possível desindustrialização do Brasil está faltando um pouco da concretude do consumidor. Exceto pelos muito, muito, mas muito liberais mesmo, acho que todo mundo concorda pelo menos em princípio que é desejável que o país mantenha indústrias. Mas até que ponto esse objetivo deve ser perseguido?

Não podemos perder de vista os interesses dos 190 milhões de brasileiros que, sem prejuízo de outras funções, são também consumidores.

Se os chineses conseguem produzir uma série de badulaques com mais qualidade e a menor preço do que nossos compatriotas, é razoável privar o consumidor local de usufruir dos ganhos de produtividade obtidos pela indústria chinesa? Milhares de brasileiros já disseram o que pensam, ao viajar para Miami e voltar com as malas abarrotadas com tudo o que carregue uma etiqueta de preço.

A discussão se estende para outros campos. Não tenho nada contra o cinema brasileiro, tampouco o coloco num pedestal. Quando o filme é bom, pago o ingresso com prazer. Mas não gosto da ideia de políticos de Brasília aumentarem minha já elevada mensalidade de TV a cabo criando leis que estabelecem cotas para a produção nacional.

A verdade é que leis de incentivo, subsídios, impostos de importação e barreiras são uma faca de dois gumes. Se usados com sabedoria, podem dar aquele empurrãozinho que faltava para que um setor supere dificuldades iniciais ou transitórias e se estabeleça por conta própria.

O problema é que essas ferramentas quase nunca são usadas com sabedoria, resultando no mais das vezes num incentivo para a ineficiência. Os mais velhos hão de lembrar-se da malfadada reserva de mercado para a informática, que enriqueceu uns poucos e atrasou em alguns anos o desenvolvimento do Brasil. Quem sempre paga a conta é o consumidor e o contribuinte, que, não por acaso, são a mesma pessoa.
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