domingo, 8 de agosto de 2010

Brasil é reprovado em infraestrutura

De fato, contra fatos não há argumentos, tampouco carisma faz com que desafios sejam superados. 
Os dados abaixo desnudam uma série de reportagens por demais otimistas que circulam nos últimos meses.
O objetivo, contudo, não é criticar e sim ajudar a ressaltar a dificuldade e complexidade que se tem ao tentar se conduzir desenvolvimento ao país.

Não custa relembrar notícias dando conta de ambientalistas, ONG, indígenas, MST e toda uma miríade de grupos e obstáculos, os inimigos íntimos, que dificultam até o atual governo, que lhes é condescendente, a promover o desenvolvimento.

Convém, ainda, que nos convençamos de que municípios e estados também entram na equação.
Vale a pena ler a reportagem para se ter uma noção de como estamos e vislumbrar se, de fato, no ritmo que as coisas são no país, conseguiremos virar quinta economia em 2016.




Brasil é reprovado em infraestrutura

Autor(es): Marcelo Rehder
O Estado de S. Paulo - 08/08/2010

País ocupa a 17ª posição entre 21 concorrentes globais e numa escala de 1 a 7 obtém nota 3,4, abaixo da média mundial de 4,1

A qualidade da infraestrutura brasileira é das piores no mundo, mesmo com a arrancada dos investimentos nos últimos quatro anos. Comparado a outros 20 países, com os quais concorre no mercado global, o Brasil ficou apenas na 17.ª colocação no quesito qualidade geral da infraestrutura, empatado com a Colômbia. Numa escala de 1 a 7, o País teve nota 3,4, abaixo da média mundial, de 4,1.

As informações são de um estudo inédito da LCA Consultores, cuja fonte foi o relatório de competitividade 2009/2010 do Fórum Econômico Mundial, localizado em Genebra, na Suíça. A avaliação é feita por empresários e especialistas de cada nação. No Brasil,181 questionários foram respondidos.

má qualidade das estradas, portos, ferrovias e aeroportos brasileiros não chega a ser novidade. Mas faltava uma comparação internacional que desse uma noção mais clara de quão atrasado está o País.

A distância que separa o Brasil das primeiras posições é enorme. A França, que ocupa o topo da lista, teve nota 6,6, seguida de Alemanha (6,5) e Estados Unidos (5,9). Entre as outras nações que deixaram o País na rabeira, estão o México, a China, a Turquia, a África do Sul e o Chile.

"Ficamos décadas sem investir e isso fez com que acumulássemos gargalos que ainda se refletem no estado atual da nossa infraestrutura", diz o economista-chefe da LCA Consultores, Braulio Borges, autor do estudo.

Foi no item qualidade da infraestrutura portuária que o Brasil teve o pior desempenho. Com 2,6 pontos, o País foi o lanterninha do grupo, bem distante da média mundial de 4,2. No setor ferroviário, o padrão de qualidade brasileiro só não é pior que o da Colômbia: teve nota 1,8, ante uma média mundial de 3,1.

A sequência de notas nada lisonjeiras não para por aí. A qualidade das estradas brasileiras, por onde trafega mais da metade das cargas no País, supera apenas a da Rússia. Com 2,8, ficou empatada com a da Colômbia, na penúltima colocação.

O desempenho do setor aeroportuário (nota 4,1) também é fraco: ganha só da Rússia (4,0) e da Argentina (3,4). Para quem vai receber, dentro de pouco tempo, dois megaeventos esportivos - a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016 -, a pontuação funciona como um sinal de alerta. "Se a gente não fizer nada, somando esses eventos com o crescimento da economia, que deve ser de 5% ao ano, está encomendado aí um apagão", diz o economista da LCA.

Bem na fita. O único destaque positivo do Brasil foi a qualidade da oferta de energia. Com nota 5,2, ela ficou acima da média mundial, 4,6. Foi também a maior nota entre os Brics, termo criado pelo banco de investimento Goldman Sachs para denominar o grupo de economias emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia e China.

"Estamos bem na fita porque a energia é o único setor no País que tem um modelo de concessão onde o Estado retomou a capacidade de planejamento", diz o diretor do departamento de infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Carlos Cavalcanti.

Uma das principais qualidades desse modelo, segundo Cavalcanti, é o preço-teto dos leilões de energia pela menor tarifa. É o chamado leilão reverso. "No modelo de concessão onde o Estado se beneficia, por meio de cessão onerosa, a renda que vai para o governo é repassada depois para a tarifa", diz o executivo. Um exemplo são os preços dos pedágios cobrados nas rodovias privatizadas no País.

Para dar um salto de qualidade nos demais setores da infraestrutura, o desafio é conseguir imprimir velocidade aos investimentos na mesma proporção da demanda, opina o presidente da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), Paulo Godoy. "Precisamos melhorar a eficiência do setor público", afirma Godoy. "Essa é a chave para o Brasil encontrar seu crescimento definitivamente sustentável."

Braulio Borges, da LCA Consultores, acha que a solução passa pela reforma do sistema de regulação. "A qualidade da regulação no Brasil está abaixo, por exemplo, da média da América Latina", diz o economista. "A gente sabe que o investimento privado em infraestrutura precisa de estabilidade de regras. Se há pouca estabilidade, não há investimento."

O presidente do Movimento Brasil Competitivo, Erik Camarano, defende uma revisão da matriz de transporte no País. "Temos de fazer a migração do transporte rodoviário em direção a mais uso de ferrovias e hidrovias para reduzir custo de frete."
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