FOLHA DE S. PAULO
Pedido de socorro de Portugal e aumento da taxa de juros na zona do euro indicam que a crise está longe do fim no velho continente
A crise da zona do euro vive novos e tensos capítulos.
No fim de março, os chefes de Estado da União Europeia (UE) chegaram a um acordo de princípios para reforçar a união monetária no longo prazo. Poucos dias depois, após longa hesitação e pressionado por custos crescentes para tomar empréstimos, Portugal pediu socorro à UE e ao FMI.
Por fim, apesar da recessão que ainda aflige boa parte da periferia do bloco, o Banco Central Europeu tomou o passo corajoso -ou temerário- de elevar os juros em 0,25 ponto percentual para 1,25%. Como conciliar esses fatos aparentemente contraditórios?
Começando pelo acordo para reforço fiscal e monetário, a principal decisão foi o fortalecimento do fundo de auxílio a países em dificuldade, com o aumento de 250 bilhões para 440 bilhões de euros nos recursos para empréstimo. O novo montante é suficiente para os três países menores que já pediram ajuda -Grécia, Portugal e Irlanda- e também para um eventual socorro à Espanha.
A contrapartida é o compromisso dos receptores de realizar ajustes de gastos públicos e adotar medidas de reforço à competitividade. Entre elas está a controversa liberalização de leis trabalhistas.
A Alemanha, que passou por longo processo de redução de salários, defende que os vizinhos trilhem caminho semelhante. Não está claro se a estratégia de impor ajustes profundos ao contrato social europeu será politicamente viável, ainda mais numa recessão. Governos cairão, como na Irlanda e, agora, em Portugal.
Seja como for, o aumento do fundo de auxílio teve sucesso, até agora, em isolar a Espanha do ataque dos mercados. A UE conseguiu comprar tempo para buscar alguns ajustes econômicos.
Uma das facetas mais notáveis da crise foi acentuar a diferença de desempenho na zona do euro. Vêm daí as dificuldades do BCE, que precisa fixar os juros considerando uma espécie de média do desempenho de países-membros.
Enquanto a periferia permanece em recessão, a Alemanha (e, em alguma medida, a França) cresce. Nos 12 meses até fevereiro, a produção industrial alemã subiu 14,8%, impulsionada por exportações. Ao mesmo tempo, o desemprego na Alemanha atingiu 7,1% em março, a menor taxa desde a reunificação; na Espanha a taxa permanece perto de 20%. Por fim, há a questão da inflação, que chegou a 2,6% em março na zona do euro, acima da meta de 2%, o que justificaria a alta de juros.
A turbulência está longe do fim. O risco de uma crise séria de dívidas, mesmo adiado, continua. Enquanto a Alemanha for bem, há esperança para a zona do euro.
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