quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Economia verde tem conceito elástico e serve para todos os fins



Valor Econômico


Até pouco tempo atrás a Rio+20 era uma conferência da ONU à procura de um objetivo. Os países ricos não aceitavam a ideia de fazer um balanço do que foi feito nos últimos 20 anos, desde a Eco 92, no Rio - progressos na transferência de recursos financeiros e transferência tecnológica, se ocorreram, foram pífios. A discussão ambiental pura não interessa ao mundo em desenvolvimento, que quer relacionar seu crescimento com a redução da pobreza. Para não ficar à deriva acordou-se pela pauta da economia verde, que tem conceito elástico e pode servir a todos.

O Brasil é anfitrião e se esforça para que a Rio+20 brilhe. Não é tarefa fácil, considerando-se que a conferência-mãe, a Eco 92 (também conhecida por Cúpula da Terra) foi sucesso de público e crítica. Todos os líderes estrangeiros que importavam estiveram presentes. O evento produziu duas convenções fundamentais, a do Clima e a da Biodiversidade, e foi a gênese para a Convenção sobre Desertificação. Também resultou na Agenda 21 e na Declaração sobre Florestas. A convenção do Clima geraria, anos depois, um filhote famoso, o Protocolo de Kyoto. Difícil competir com todo este prestígio.

Até porque o momento, agora, também é difícil, com o pano de fundo da crise financeira mundial. Um dos convidados mais aguardados, o presidente Barack Obama, estará em plena campanha eleitoral e dificilmente virá. Os outros líderes tendem a olhar em volta antes de confirmar presença. Além disso, em 2012 também acontece o encontro internacional da conferência do clima e mais o da biodiversidade, na Índia. É muito evento internacional para um mundo que não tem dado muita bola para a pauta ambiental.

Mas para não deixar a Rio+20 esvaziada, o Brasil bate justamente na tecla que a Eco 92 consagrou, a definição clássica do desenvolvimento sustentável onde o desenvolvimento é socialmente inclusivo, ambientalmente adequado e economicamente viável. "Não é só desenvolvimento econômico, não é só conservação ambiental, não é só proteção social, mas é a mistura das três coisas", diz Fernando Lyrio, assessor extraordinário para a Rio+20 do Ministério do Meio Ambiente. A Comissão Nacional criada por decreto pela presidente Dilma Rousseff reflete isso - estão lá todos os ministérios, representados pelos titulares das pastas, e mais representantes dos diversos setores da sociedade, de empresários a grupos indígenas.

Nenhum país do mundo quer que uma conferência internacional em seu território seja fraca. Para esticar a agenda - que as Nações Unidas reduziram a três dias contra os 15 da Eco 92 - o Brasil imaginou algo subversivo aos padrões da ONU - os tais oito painéis sobre água, energia e o que mais for. Também se esforça para fazer com que todos os atores que não são governo, mas influenciam o mundo hoje, sejam ouvidos decentemente no processo multilateral. "Ou fazemos isso, ou o que se discutir no mundo multilateral acaba sendo letra morta. Porque o mundo real está acontecendo de outra maneira", lembra Lyrio. 
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