terça-feira, 6 de setembro de 2011

Diplomacia de baixa voltagem



CLÓVIS ROSSI 
FOLHA DE SP


Dilma sepulta diplomacia presidencial, mas o Brasil continua a ser ator relevante no palco internacional


Depois dos oito trepidantes anos da diplomacia de Luiz Inácio Lula da Silva/Celso Amorim, a discrição de Dilma Rousseff/Antonio Patriota parece um silêncio ensurdecedor.
Afinal, Lula dava palpites, às vezes despropositados, sobre todos os assuntos da realidade internacional, do teor da democracia na Venezuela de Hugo Chávez ao caráter supostamente futebolístico dos protestos contra a reeleição do iraniano Ahmadinejad.
Dilma, passados oito meses de governo, não disse uma só palavra sobre temas internacionais, por mais que o Oriente Médio tenha começado a ferver exatamente nos primeiros dias de sua gestão.
A diferença é visível a olho nu, mas não se trata apenas de falar mais ou falar menos. O silêncio e a discrição passam a impressão de que o Brasil se afastou -ou foi afastado- da grande cena internacional, na qual até forçou a entrada no período anterior.
O Itamaraty admite a diferença: "Não é o estilo do atual ministro se mostrar frequentemente na mídia", diz Antonio Tovar Nunes, o porta-voz de Patriota.
Mas nega que o Brasil tenha ficado descolocado na cena global. Que negue, é natural. Seria ilógico que um alto funcionário, de qualquer departamento, aceitasse que o desempenho de sua área caiu de patamar.
Há, no entanto, pelo menos uma fonte relevante que dá razão a Tovar quando diz que o Brasil continua na foto internacional: "Nesses meus dois meses de Brasil, não passa um dia sem que eu converse com alguém do Itamaraty ou de outro Ministério", depõe Todd Chapman, encarregado de negócios dos Estados Unidos no Brasil, enquanto o titular, Thomas Shannon, exerce provisoriamente o posto de número 3 do Departamento de Estado. E, completa Chapman, a agenda com o Brasil é vasta e não exclui, por exemplo, Líbia e Síria, por mais que as posições de Brasília e de Washington tenham sido diferentes.
Chapman minimiza a divergência, ao dizer que Brasil e EUA concordam nos princípios essenciais que estão em jogo, a saber democracia e direitos humanos.
Não é apenas com os EUA que o discreto Brasil de Dilma/Patriota mantém o ritmo da elétrica gestão anterior: o chanceler fez 36 viagens internacionais nos seis primeiros meses do governo. Uma a cada cinco dias, o que demonstra que manteve o ritmo frenético que Amorim impôs. Mais, seria desnecessário: "Amorim levou o Brasil ao palco. Já o temos, portanto, e não é o caso de ampliá-lo", diz o porta-voz.
De todo modo, o novo estilo diplomático do Brasil é menos impulsivo. No caso, por exemplo, da Líbia, a pauta da semana, o Brasil prefere conversar e conversar, com seus parceiros no Conselho de Segurança, com os demais integrantes do BRICs (Rússia, Índia, China e África do Sul), com a Turquia e outros, antes de reconhecer o Conselho Nacional de Transição como legítimo representante líbio, mesmo depois de a Liga Árabe tê-lo feito.
No caso da Síria, o Itamaraty leva em conta até a posição da comunidade síria no Brasil que não demonstra nenhuma ansiedade por ver Bashar Assad defenestrado.
Tudo somado, tem-se uma diplomacia de baixa voltagem, mas não por isso fora do jogo global.
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