quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Uma agenda mundial para 7 bilhões


Ban Ki-moon
Valor Econômico




No fim de outubro nascerá uma criança que será a sétima bilionésima habitante do planeta Terra. Nunca saberemos em que sociedade ou família o bebê nascerá. Mas sabemos que embarcará em um mundo de mudanças enormes e imprevisíveis - ambientais, econômicas, geopolíticas, tecnológicas e demográficas.

A população mundial triplicou desde que a ONU foi criada, em 1945. E nossos números continuam crescendo, com pressões correspondentes sobre terra, energia, alimentos e água. A economia mundial também está gerando pressões: crescente desemprego, ampliação das desigualdades sociais e a emergência de novas potências econômicas.

Essas tendências interligam o destino e o futuro das atuais 7 bilhões de pessoas como nunca antes. Nenhum país sozinho tem como resolver os grandes problemas do mundo no século XXI. Cooperação internacional é uma necessidade universal.

A 66ª sessão da Assembleia Geral da ONU é uma nova oportunidade para os países do mundo deixarem de lado seus interesses estreitos e de curto prazo e comprometerem-se com esforços cooperativos para enfrentar os imperativos de longo prazo da humanidade. Em um momento em que todas as nações estão se defrontando com dificuldades individuais, precisamos forjar uma agenda mundial comum que possa ajudar a assegurar que o sétimo bilionésimo bebê e as gerações futuras cresçam em um mundo caracterizado por paz duradoura, prosperidade, liberdade e justiça.

Para ajudar a criar esse futuro, estou concentrando meu segundo mandato como secretário-geral em cinco imperativos globais - cinco oportunidades para que uma geração molde o mundo futuro com base nas decisões que tomamos hoje.

O primeiro e maior desses imperativos é o desenvolvimento sustentável. Todos nós precisamos entender que salvar nosso planeta, tirar as pessoas da pobreza e fazer progredir o crescimento econômico são uma só luta. Devemos conectar os pontos entre mudanças climáticas, escassez de água, falta de energia, saúde mundial, segurança alimentar e mais poder às mulheres. Soluções para um problema deve ser soluções para todos.

Precisamos, nos próximos cinco anos, criar uma nova visão econômica para um desenvolvimento sustentável e forjar um consenso mundial sobre um acordo com força de lei sobre as alterações climáticas. Fomentar o crescimento econômico, a concretização das Metas de Desenvolvimento do Milênio e o combate às alterações climáticas dependerão, todos, da criação de um novo sistema energético para o século XXI e de estendê-lo a cada pessoa no planeta.

Prevenção como um arcabouço para cooperação internacional é uma segunda oportunidade. Neste ano, o orçamento da ONU para ações de paz atingirá um total de US$ 8 bilhões. Pense no que poderíamos economizar evitando conflitos - enviando missões de mediação política, por exemplo, em vez de tropas. Nós sabemos como fazer isso. Nosso histórico comprova isso - na Guiné, no Quênia e no Quirguistão.

Um terceiro imperativo é a construção de um mundo material e humanamente mais seguro. Nesse esforço, precisamos ser corajosos na defesa da democracia, dos direitos humanos e da paz. Este ano foi importantíssimo na restauração e manutenção da paz - na Costa do Marfim, em Darfur, no Egito e em outros lugares. Mas ódio e derramamento de sangue ainda são obstáculos em nosso caminho de nossa visão para a paz.

No Oriente Médio precisamos romper o impasse. Os palestinos merecem um Estado. Israel necessita segurança. Ambos querem paz. Um acordo negociado pode produzir esses resultados e a ONU é uma plataforma para o estabelecimento dessa paz.

Assim, também, prosseguiremos em nossos esforços para promover a governança democrática no Iraque, Afeganistão, República Democrática do Congo e em Serra Leoa. E, em nome de toda a humanidade, continuaremos a pressionar pelo desarmamento nuclear e pela não proliferação, a serviço da concretização de um mundo livre de armas nucleares.

A quarta grande oportunidade é apoiar os países em transição. Dramáticos acontecimentos neste ano no Norte de África e no Oriente Médio inspiraram as pessoas em todo o mundo. Façamos da Primavera Árabe uma verdadeira estação de esperança para todos.

Na Líbia, estamos implantando uma nova missão de apoio da ONU para ajudar as autoridades de transição do país a estabelecer um novo governo e a ordem legal, em consonância com as aspirações do povo líbio. A Síria é motivo de preocupação especial. Durante seis meses vimos a escalada da violência e da repressão. O governo prometeu repetidamente realizar reformas e ouvir seu povo. Não o fez. O momento de agir é agora. A violência deve cessar.

Por último, mas não menos importante, é imperativo trabalhar com, e para, as mulheres e jovens.

As mulheres sustentam mais de metade do céu [provérbio chinês] e representam grande parte do potencial não realizado do mundo. Necessitamos a plena participação delas - no governo, nas empresas e na sociedade civil. A ONU atribuiu alta prioridade à promoção das mulheres em todos os níveis da Organização e neste ano, pela primeira vez, a UN Women está operando no sentido de promover os interesses e direitos das mulheres em todo o mundo.

Sete bilhões de pessoas agora voltam os olhos para a ONU em busca de soluções para as grandes dificuldades do mundo inteiro. Elas têm diferentes religiões e histórias, mas sonhos e aspirações comuns. Nosso futuro mundial depende de aglutinar esses talentos individuais e direitos universais em causas comuns. Inauguremos nossa agenda comum. (Tradução Sergio Blum)

Ban Ki-moon é secretário-geral da Organização das Nações Unidas.
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