O autor, chinês claro, apresenta argumentos válidos para sustentar o aumento de investimentos externos no país. O tema requer cuidado, pois não se pode prejudicar a indústria nacional.
A sociedade precisa conhecer e debater mais investimentos estrangeiros em um país com baixo índice de produção por problemas de escolaridade e, por conseguinte, baixa poupança interna fruto, também de grandes e necessários investimentos sociais para redução de desigualdade.
Nacionalismo antinacionalista
CHARLES TANG
O Globo
Ainda não faz tanto tempo que o nacionalismo equivocado da época de "o petróleo é nosso" prolongou o período de pobreza no Brasil. Ao contrário de hoje, não tínhamos os recursos financeiros ou tecnológicos para nos beneficiarmos desta dádiva do ouro negro e não se admitia o capital e a tecnologia estrangeiros. Em consequência, a pobreza se expandiu e a economia estagnou.
À porta de uma brutal recessão mundial, que ameaça ser pior do que a crise que passou, não podemos erguer barreiras para empreendimentos que injetem capital, gerem empregos, tragam tecnologia e inovações, criando riquezas para o Brasil.
A nossa proibição à compra de terras por estrangeiros é festejada por nossos vizinhos da América Latina e da África, que passaram a receber a bonança por nós desprezada. De continente perdido, a África se transformou na esperança dos emergentes devido aos investimentos maciços dos chineses.
Aqui, o decreto que aumenta o IPI dos automóveis com menos de 65% de conteúdo nacional não só dificulta a importação de veículos estrangeiros, mas poderá coibir a construção de novas montadoras no país. Até montadoras já instaladas não conseguiram ainda atingir esse índice de nacionalização, que leva anos para ser conseguido. Nem existem indústrias de componentes nacionais suficientes para atender à exigência do decreto.
Acaso devemos proteger antigos investimentos estrangeiros da competição de novas inversões estrangeiras, a fim de que possam continuar vendendo suas carroças a preços exorbitantes?
Competir é saudável! Medidas de proteção criam parques industriais jurássicos nacionais. Necessitamos fortalecer a indústria e permitir que ela seja competitiva sem o nosso oneroso "custo brasil".
Algumas montadoras chinesas vieram investir no Brasil atendendo ao apelo da presidente Dilma, que em visita à China solicitou que empresas chinesas invistam mais e exportem menos ao Brasil. A reação da presidente pedindo um estudo que crie exceções para empresas que pretendam estabelecer montadoras no Brasil é encorajadora e deve originar diferenciais para quem queira investir no país.
Ademais, a presença de produtos chineses em nosso mercado ajudou o bem-estar do povo brasileiro ao provocar a baixa do preço dos produtos que eram acessíveis somente a nossas elites. Por que o nosso povo sempre tem que pagar mais pelo que consome, a fim de sustentar os oligopólios, monopólios e jurássicos de plantão?
O principal fator de riqueza do crescimento chinês foi sua incessante busca por investimentos estrangeiros, que chegou a discriminar a empresa chinesa a favor da estrangeira. Até 2008, a empresa de fora pagava 25% de imposto de renda, enquanto a empresa nacional era onerada em 33%. Durante as três décadas em que vigorou esse tratamento desigual, toda empresa chinesa queria ter um sócio estrangeiro.
Devemos entender, como os chineses sabiam, que os estrangeiros iriam trabalhar sob a soberania e leis chinesas. Sabiam que toda riqueza criada iria beneficiar a China e dar emprego e tecnologia ao povo chinês.
Como nos falta poupança interna, somente poderemos erradicar nossa pobreza, como quer a presidente Dilma, com a contribuição de capitais estrangeiros. O Brasil lutou muitos anos, inclusive com Lula como nosso mascate, a fim de construir a imagem de um país estável e de regras permanentes, tendo em vista a atração de investimentos.
Mudanças bruscas de regras no meio do jogo podem rapidamente alterar esta imagem.
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