Questões sociais, trabalhistas e de segurança pública, normalmente, não são previstas se uma séria estratégia de absorção de imigrantes internacionais não for adotada. Pela qualificação passam seus primeiros anos em sub-empregos ou a mercê do crime organizado nas ruas.
Pela forma com a qual chegaram ao Acre, a leva de haitianos sugere que há algo mais profundo do que a mídia tenta ventilar.
A sociedade e instituições precisam ficar atentas.
Renovar a política de imigração
O Globo
A "invasão" de haitianos pelo Norte forçou o Brasil a fechar a fronteira, para ordenar o fluxo dos imigrantes. A corrente não surgiu agora, mas, tudo indica, ao ser explorada pelos "coiotes", especializados em colocar latino-americanos de forma clandestina nos Estados Unidos, mercado hoje pouco ativo, a corrida ao Brasil ameaçou se transformar em uma largada de maratona de rua. Brasília não tinha outra alternativa, até porque as portas de entrada dos haitianos, pequenas cidades do Acre na fronteira com Peru e Bolívia, entrariam em colapso em breve.
O caso tem nítidos aspectos humanitários. Impossível esquecer a situação do Haiti, abalado por crises políticas até ser fisicamente destruído por um terremoto em 12 de janeiro, há dois anos completados hoje. Da grande operação multinacional de reconstrução, o Brasil participa com tropas para garantir a segurança. Agora, assume um papel maior, de acolhimento de haitianos em busca de um local para viver do próprio trabalho, algo impossível no Haiti.
A questão é até mais ampla. Há vários indícios de que o Brasil está em mais um ciclo de imigrações. E, se isto for verdade, precisará estar atento para adequar a política de recepção de estrangeiros a interesses nacionais.
A História relata a contribuição-chave ao desenvolvimento do país dada por diversos fluxos migratórios. A de italianos e japoneses é notória, sem deixar num segundo plano distante a de alemães para o Sul do país.
O "ciclo do café", iniciado na primeira metade do século XIX, fundamental na geração dos recursos para financiar a industrialização, foi bastante ajudado pela mão de obra estrangeira. Japoneses e italianos, com seus descendentes, têm tanta presença em São Paulo que a cultura da capital apresenta marcas visíveis das duas nacionalidades. Na industrialização, os italianos de São Paulo também estiveram presentes, inclusive na organização social e política.
O Brasil sempre ganhou quando acolheu estrangeiros. Daí ter constituído uma sociedade miscigenada, tolerante com qualquer etnia. Além de preservar esta característica, governantes têm de potencializar os efeitos positivos do fato de o país, depois de um longo período em que foi exportador de mão de obra, passar a ser foco de atração mundial, a começar dos próprios brasileiros que saíram em busca da sorte a partir da "década perdida" dos anos 80.
A falta de mão de obra no Brasil, de diversos níveis de qualificação, coincide com a crise europeia e as dificuldades dos Estados Unidos de retomarem o crescimento. Entende-se por que os "coiotes" tenham passado a trabalhar na fronteira brasileira.
Os problemas europeus, mais graves que os americanos, com elevadas taxas de desemprego no continente, são uma oportunidade especial para uma política de "importação de cérebros", por exemplo. Além de o Brasil poder trazer os profissionais de alta qualificação inexistentes no mercado, tem condições, ainda, de atrair cientistas e professores para melhorar a qualidade do ensino superior.
O caso dos haitianos parece bem encaminhado. Os 4 mil que já entraram serão regularizados, e familiares terão permissão para vir. Mas cuidados precisam ser tomados para evitar qualquer exploração dos imigrantes. O tema, porém, é mais amplo e requer uma estratégia.
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