Considerações sobre um improvável desembarque de haitianos em Porto de Galinhas
Em uma sociedade pitoresca como a nossa onde o nível de interesse por leitura é baixo, onde o "corta, copia e cola" é uso comum em atividades de ensino, observa-se uma predileção, inobstante ao amplo acesso à informação, de meios abreviados, de curta duração e de baixa penetração e profundidade. Pensar e estimular a pesquisa chega a ser temerário para quem se aventura em uma sociedade onde o "herói preferido é o Joãozinho" cuja principal atividade na vida é sacanear a professora. Ou seja, o pensamento pragmático, ordenado, clássico e científico é, metaforicamente, desqualificado pela prevalência do curto, do risível, do supérfluo. Assim, a propósito da capacidade de se interpretar as notícias a sua volta, o cidadão fica a mercê do que a mídia lhe proporciona.
Entra em cena a piada da galinha que, parada na calçada, considera se atravessa a rua ou não. Várias alternativas caricatas, sempre desqualificando profissionais que pesquisam e estudam para atingir seus objetivos, são alinhadas em considerações. Advogados, filósofos, psicólogos, sociólogos etc, todos são personificados em frases que lhes desqualificam no fato de procurar refletir, se aprofundar e buscar uma razão.
Mídia e paródia de classes profissionais agora se alinham em uma notícia que vem sendo colocada para a sociedade de forma bastante simples, simplória talvez: Imigrantes ilegais haitianos no Acre. No Acre, no meio da selva amazônica, oriundos da Ilha de Espanhola onde, no Mar do Caribe, Haiti divide espaço com a Rep Dominicana. No mar...
Eis que aparecem no meio da amazônia e a mídia trata tal circunstância como um evento menor, ressaltando, somente, a miserabilidade dos imigrantes e as parcas condições que se encontram? O que falta nesse cenário dantesco, para eles claro, é a reflexão sobre a decisão da galinha, sempre, a decisão profunda, desqualificada.
Ok, como chegaram no meio da Amazônia ao sair do Mar do Caribe. Se viessem pela Guiana Francesa, ou Inglesa, teriam encontrado várias dificuldades na selva que os teria abatido. Da mesma forma se viessem pela Venezuela. Sempre pelo mar. Mas não, entram pela Bolívia e a mídia não vê, em sua rasa percepção de "twitter" nada de errado.
Ah!! Entre o mar e a Bolívia há o Peru e o Chile. Ainda assim restam duas alternativas a serem analisadas, de forma incipiente, é claro, pois a mídia ainda não cumpriu o seu papel de se aprofundar para me ajudar na análise. Assim, permito-me relembrar meus alfarrábios do módulo de Imigração Ilegal no Mestrado de Segurança e Defesa que fiz. Sim, imigração ilegal existe no Brasil sim. E os métodos permito-me inferir do que conheci nos auditórios onde o tema era exposto.
Para se chegar ao Peru ou Equador, ou Chile -este muito improvável por causa da rigidez da fiscalização em seus portos- ou se dá a volta no Atlântico contornando a Patagônia, muito improvável pelo denso e insuportável frio antártico, ou pelo Canal do Panamá -espero que a alternativa do avião, por motivos óbvios, não seja agora ventilado- onde a fiscalização nos trechos intermediários é rigorosa. O que se tem adiante é uma estrutura muito mais complexa onde os atravessadores bolivianos são apenas parte. Eles não caíram na Bolívia de pára-quedas. De que forma, então, cairiam nas mãos deles em um país que não tem litoral?
Bem, feitas as primeiras reflexões dos fatos precedentes, esquecidas e caricatas no dilema da galinha, resta-nos entender os fatores dependentes: A estrutura para importação de trabalhadores baratos e ilegais nas empresas nas grandes capitais do sul e sudeste é um lucrativo negócio. Baratos, sem direitos trabalhistas e com eterno medo enquanto promessas não se tornam realidade, tais imigrantes são máquinas de produção contínua e sem custos trabalhistas e de saúde.
Então, considerações e reflexões mais profundas nos levam ao alto custo de nossa Saúde para, de forma humanitária, cuidar destes e de vários outros. Também há a consideração da Segurança Pública, pois os imigrantes são vetores de pequenos crimes e tráficos. Nada grande, mas espalhados e contundentes à segurança do cidadão.
Como escolher estados como Maranhão, Ceará e o antigo e colonial na minha vizinha próxima Porto de Galinhas PE, onde escravos eram desembarcados sob código para fugir de fiscais e olheiros a serviço da Inglaterra, perguntava-se se o navio a aportar trazia galinhas, ou escravos. Sim, sem a comparação desses, pelo fato de serem negros, temos verdadeiros sistemas sofisticados que dariam inveja aos navios negreiros. Em plena segunda década do século XXI, a importação de mão-de-obra imigrante, ilegal -africanos, asiáticos, caribenhos etc-, está tangenciando a linha limite da decência pública e da anomia social, nos moldes dos escravos dois séculos atrás.
Afinal, refletir profundamente acerca desse fenômeno seja importante, todavia eternizado na paródia da piada: A galinha na calçada está considerando os precedentes e os decendentes...e nós fagueiros brasileiros de percepção rasa, sempre suscetíveis à baixa qualidade de nossos veículos de comunicação. Há muito mais a se preocupar do que haitianos dormindo nos banheiros de hotéis improvisados no Acre.
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