A campanha eleitoral chega à semana final com um acúmulo de desvios de conduta dos candidatos e do governo que é difícil não chegar à conclusão de que os seus principais personagens, especialmente o próprio presidente da República, se apequenaram no caminho, e o processo democrático brasileiro sofreu um retrocesso que os principais líderes políticos terão que se esforçar para superar.
A incontestável popularidade do presidente Lula por si só já seria um fator de desequilíbrio da disputa, o que é do jogo democrático. Se seu governo fosse impopular, seria um fator negativo para a coligação que o apoia.
Mas ele potencializou essa distorção usando e abusando do poder político e econômico que lhe confere o cargo, e da popularidade, para colocar a máquina governamental a serviço da eleição de sua candidata, o que prejudicou a disputa desde o primeiro momento.
O candidato do PSDB, José Serra, tentou o primeiro truque ainda na pré-campanha como governador de São Paulo, recusando-se a fazer oposição na suposição de que, explicitando sua boa relação com o presidente Lula, o eleitorado acreditaria que poderia continuar a votar nele, que liderava as pesquisas.
Quando viu que a transferência de votos de Lula para Dilma, que acreditava que não ocorreria, era um fator de desequilíbrio contra sua postulação, tentou, já na campanha, fingir-se de amigo de Lula colocando-o na sua propaganda televisiva.
O tiro saiu pela culatra, pois quem estava disposto a votar na oposição não gostou daquela proximidade, e o próprio Lula tratou de rejeitar a insinuação, deixando claro que sua candidata era Dilma.
Para contrabalançar a popularidade do presidente Lula, o candidato Serra, conhecido por sua maestria em controlar as finanças públicas e por ser um gestor eficiente, passou a prometer o céu e mais alguma coisa aos eleitores, na esperança de que não se sentissem inseguros com sua candidatura.
E dá-lhe aumento real do salário mínimo maior do que o do governo federal; 13 salário para o Bolsa Família; aumento real também para os aposentados.
O ambiente eleitoral nunca foi propício para que se discutam reformas estruturais que mexem no bolso dos eleitores, ou retirem privilégios de corporações. Muito menos em um governo populista, que não se peja de sair distribuindo casas e verbas em plena época de eleições.
Prometendo esse festival de bondades para contrabalançar a gastança do governo, a plataforma de Serra perdeu consistência, e o candidato transformou-se em outra persona política.
Para piorar a situação, o debate sobre o aborto pegou os dois candidatos no contrapé. Tanto a candidata oficial quanto o adversário oposicionista, dispostos a tudo para não perder votos, mostraram-se capazes de fazer qualquer papel na exploração religiosa da campanha.
Dilma renegou todas as suas convicções a respeito da descriminação do aborto, enquanto Serra despertou um insuspeitado lado religioso, a tal ponto que o efeito esgotou-se pela exaustão.
A começar pela verdadeira geleia geral em que se transformaram as coligações partidárias, o eleitor está perdido, sem parâmetros para se decidir. Quem ontem estava no governo hoje está na oposição com a mesma desenvoltura, explicitando a falta de um programa que cimente as negociações políticas.
As acusações de corrupção de lado a lado pareceram igualar os contendores num triste campeonato. A candidata Dilma Rousseff conseguiu neutralizar o escândalo de sua amiga Erenice Guerra na Casa Civil, levantando o caso de Paulo Preto na Dersa de São Paulo, mesmo que, até simbolicamente, os casos sejam bastante diferentes. Mas nesse tiroteio eleitoral, é difícil para o cidadão comum marcar as diferenças, e a candidata oficial foi bem-sucedida no propósito de nivelar todos por baixo.
O caso das privatizações, que mais uma vez foi utilizado pelo marqueteiro João Santana para mexer com o imaginário do eleitor médio, é sintomático dos descaminhos que a campanha tomou.
Ao dizer que utilizar o sistema de concessão para a exploração do pré-sal é o mesmo que privatizar a riqueza nacional, a candidata Dilma Rousseff está tentando enganar o eleitor.
Mas o candidato oposicionista em nenhum momento conseguiu deixar isso claro, provavelmente com receio de ser confundido com um entreguista.
Cometendo o mesmo erro da campanha de Alckmin em 2006, que “denunciou” o governo pela privatização da exploração da madeira na Amazônia, que havia sido aprovada com o apoio do PSDB, a propaganda eleitoral de Serra passou a incorporar a tese de que o sistema de concessão é uma espécie de privatização, acusando o governo atual de ter entregado nossa riqueza a diversos investidores privados, nacionais e estrangeiros.
Em vez de ter a coragem de rebater essa tese, e mostrar que a participação privada é mais benéfica para o desenvolvimento do país, a campanha tucana ficou presa na armadilha da privatização, disputando com a candidata oficial quem consegue enganar mais o eleitor.
Essa maneira de fazer política distorcendo a realidade tem no presidente Lula seu maior cultivador. O exemplo mais recente é o discurso que fez esta semana, criticando os governos passados por não terem investido na indústria naval na solenidade em que a primeira-dama foi madrinha do lançamento do navio Jatobá, segundo de cinco porta-contêineres encomendados pela empresa Log-In ao estaleiro Eisa.
Esses novos navios ampliarão em 300% a capacidade do serviço de navegação costeira da empresa. E a construção de cada embarcação, cria, direta ou indiretamente, cerca de 3 mil empregos.
Quem ouve a crítica de Lula pensa que o investimento é de uma empresa governamental, mas a Log-In Logística Intermodal é uma empresa da Vale, que foi privatizada no governo Fernando Henrique Cardoso.
.
A incontestável popularidade do presidente Lula por si só já seria um fator de desequilíbrio da disputa, o que é do jogo democrático. Se seu governo fosse impopular, seria um fator negativo para a coligação que o apoia.
Mas ele potencializou essa distorção usando e abusando do poder político e econômico que lhe confere o cargo, e da popularidade, para colocar a máquina governamental a serviço da eleição de sua candidata, o que prejudicou a disputa desde o primeiro momento.
O candidato do PSDB, José Serra, tentou o primeiro truque ainda na pré-campanha como governador de São Paulo, recusando-se a fazer oposição na suposição de que, explicitando sua boa relação com o presidente Lula, o eleitorado acreditaria que poderia continuar a votar nele, que liderava as pesquisas.
Quando viu que a transferência de votos de Lula para Dilma, que acreditava que não ocorreria, era um fator de desequilíbrio contra sua postulação, tentou, já na campanha, fingir-se de amigo de Lula colocando-o na sua propaganda televisiva.
O tiro saiu pela culatra, pois quem estava disposto a votar na oposição não gostou daquela proximidade, e o próprio Lula tratou de rejeitar a insinuação, deixando claro que sua candidata era Dilma.
Para contrabalançar a popularidade do presidente Lula, o candidato Serra, conhecido por sua maestria em controlar as finanças públicas e por ser um gestor eficiente, passou a prometer o céu e mais alguma coisa aos eleitores, na esperança de que não se sentissem inseguros com sua candidatura.
E dá-lhe aumento real do salário mínimo maior do que o do governo federal; 13 salário para o Bolsa Família; aumento real também para os aposentados.
O ambiente eleitoral nunca foi propício para que se discutam reformas estruturais que mexem no bolso dos eleitores, ou retirem privilégios de corporações. Muito menos em um governo populista, que não se peja de sair distribuindo casas e verbas em plena época de eleições.
Prometendo esse festival de bondades para contrabalançar a gastança do governo, a plataforma de Serra perdeu consistência, e o candidato transformou-se em outra persona política.
Para piorar a situação, o debate sobre o aborto pegou os dois candidatos no contrapé. Tanto a candidata oficial quanto o adversário oposicionista, dispostos a tudo para não perder votos, mostraram-se capazes de fazer qualquer papel na exploração religiosa da campanha.
Dilma renegou todas as suas convicções a respeito da descriminação do aborto, enquanto Serra despertou um insuspeitado lado religioso, a tal ponto que o efeito esgotou-se pela exaustão.
A começar pela verdadeira geleia geral em que se transformaram as coligações partidárias, o eleitor está perdido, sem parâmetros para se decidir. Quem ontem estava no governo hoje está na oposição com a mesma desenvoltura, explicitando a falta de um programa que cimente as negociações políticas.
As acusações de corrupção de lado a lado pareceram igualar os contendores num triste campeonato. A candidata Dilma Rousseff conseguiu neutralizar o escândalo de sua amiga Erenice Guerra na Casa Civil, levantando o caso de Paulo Preto na Dersa de São Paulo, mesmo que, até simbolicamente, os casos sejam bastante diferentes. Mas nesse tiroteio eleitoral, é difícil para o cidadão comum marcar as diferenças, e a candidata oficial foi bem-sucedida no propósito de nivelar todos por baixo.
O caso das privatizações, que mais uma vez foi utilizado pelo marqueteiro João Santana para mexer com o imaginário do eleitor médio, é sintomático dos descaminhos que a campanha tomou.
Ao dizer que utilizar o sistema de concessão para a exploração do pré-sal é o mesmo que privatizar a riqueza nacional, a candidata Dilma Rousseff está tentando enganar o eleitor.
Mas o candidato oposicionista em nenhum momento conseguiu deixar isso claro, provavelmente com receio de ser confundido com um entreguista.
Cometendo o mesmo erro da campanha de Alckmin em 2006, que “denunciou” o governo pela privatização da exploração da madeira na Amazônia, que havia sido aprovada com o apoio do PSDB, a propaganda eleitoral de Serra passou a incorporar a tese de que o sistema de concessão é uma espécie de privatização, acusando o governo atual de ter entregado nossa riqueza a diversos investidores privados, nacionais e estrangeiros.
Em vez de ter a coragem de rebater essa tese, e mostrar que a participação privada é mais benéfica para o desenvolvimento do país, a campanha tucana ficou presa na armadilha da privatização, disputando com a candidata oficial quem consegue enganar mais o eleitor.
Essa maneira de fazer política distorcendo a realidade tem no presidente Lula seu maior cultivador. O exemplo mais recente é o discurso que fez esta semana, criticando os governos passados por não terem investido na indústria naval na solenidade em que a primeira-dama foi madrinha do lançamento do navio Jatobá, segundo de cinco porta-contêineres encomendados pela empresa Log-In ao estaleiro Eisa.
Esses novos navios ampliarão em 300% a capacidade do serviço de navegação costeira da empresa. E a construção de cada embarcação, cria, direta ou indiretamente, cerca de 3 mil empregos.
Quem ouve a crítica de Lula pensa que o investimento é de uma empresa governamental, mas a Log-In Logística Intermodal é uma empresa da Vale, que foi privatizada no governo Fernando Henrique Cardoso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário