Daniela Chiaretti | De Bruxelas - Valor Econômico - 27/10/2010
"Se a China assumisse a liderança, o processo se destravaria. É isso que a Europa deveria fazer: trazer a China para liderar. Não adianta esperar pelos Estados Unidos. Os EUA estão paralisados, lamento reconhecer." A sugestão contundente para que as negociações por um acordo internacional do clima voltem a andar é do economista americano Jeffrey Sachs.
Sachs, que é diretor do Earth Institute e professor da Columbia University, deu uma entrevista ontem, por Skype e telão a cem jornalistas do mundo reunidos em Bruxelas, na Bélgica. Sachs falou claramente: no dia 2, a administração Obama deverá perder para os republicanos a Câmara e talvez também se complique no Senado. "A partir daí, os EUA vão ficar alérgicos a qualquer acordo global e isso poderá ficar assim por muitos e muitos anos."
A consequência imediata disso será sentida no fim de novembro, durante a próxima rodada de negociação climática das Nações Unidas, em Cancún, no México. Segundo Sachs, a delegação americana vai ao México "com muito pouco." A opinião pública nos Estados Unidos não está sensibilizada para o aquecimento do planeta. Mesmo após o histórico desastre ambiental provocado pelo vazamento de petróleo de uma plataforma da BP no Golfo do México, os americanos dizem que é preciso continuar as perfurações marítimas. "Eles ligam a atividade à geração de empregos", explicou Sachs.
Os EUA também votaram contra a criação de um regime de "cap-and-trade", pelo qual se estabelece um teto para as emissões de gases-estufa e se comercializam licenças para emitir, dando tempo à economia para migrar para tecnologias mais limpas. E as pesquisas indicam que 50% da população do país não acredita na mudança climática. "O nível de irresponsabilidade da mídia, que não divulga que o fenômeno está acontecendo é muito maior do que se possa imaginar."
"Os EUA são a maior barreira para que se consiga fazer um acordo climático no âmbito das Nações Unidas e acho que o mundo precisaria dizer isso muito claramente", continuou o economista. "A natureza não liga para os políticos e está se degradando."
Segundo Sachs, há dois caminhos importantes para fazer a roda andar. Uma das metas seria trazer a comunidade de negócios mais perto do processo, para estimular as mudanças, a eficiência energética, as novas tecnologias em construção, transportes, planejamento urbano. A outra rota seria convencer a China a assumir a vaga da liderança em um acordo que não inclua os EUA. "Não adianta esperar pelo meu país", prosseguiu. "A Europa tem sido muito séria nesse tema. Devem estar pensando: por que somos os únicos a carregar esse fardo?".
Os europeus não têm nenhuma grande expectativa em relação ao que pode ser conseguido em Cancún. Mas esperam que ali possa ser fechado um pacote de decisões sobre medidas de adaptação à mudança climática, a mecanismos de Redd+ (redução de emissões por desmatamento e degradação, além de instrumentos que promovam o manejo e a conservação da floresta) e algo sobre a governança do processo. Mas nada além. "Em Copenhague tínhamos a pressão máxima da opinião pública e todos os líderes, e não foi possível chegarmos a um acordo ambicioso e forte como imaginávamos", disse Connie Hedegaard, a comissária europeia para Ação Climática. "Sabemos que, em Cancún, não se chegará a um acordo, mas é possível fechar um pacote de decisões em alguns temas."
A jornalista viajou a convite do European Journalism Centre e da Comissão Europeia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário