sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Impunidade e corrupção


ESTADO DE MINAS
27/10/2010

Combate aos desvios no setor público deveria ser compromisso dos candidatos 


Está fora dos 13 pontos do programa básico de governo da candidata Dilma Rousseff (PT) e das propostas de seu concorrente José Serra (PSDB), mas o combate à corrupção e a seu principal combustível, a impunidade, deveria ser compromisso do próximo presidente da República. Não faltam pesquisas que apontam os maus exemplos vindos de vários escaninhos da política e da administração pública como principal causa do desinteresse dos jovens brasileiros em renovar os quadros dessa carreira. Além dessa preocupação com o futuro, é também de todo recomendável que se dê atenção especial ao prejuízo que a maioria da população, especialmente as parcelas mais pobres, sofre com o desvio de recursos que lhe trariam aumento da qualidade de vida, além, é claro, do encarecimento geral das obras públicas, nos casos de superfaturamento. É mais um item a pesar contra o país em seu esforço de inserção mundial, pois reduz a competitividade do Brasil num mundo em que as oportunidades se estreitam e a concorrência se acirra em busca de mercados. 

Não bastasse o farto noticiário que não para de chocar as pessoas de bem com a ousadia e o excesso de criatividade dos espertalhões que tentam se apropriar do patrimônio coletivo, uma nova pesquisa de âmbito mundial acaba de reforçar o péssimo cadastro que a corrupção tem construído com o nome do Brasil. A respeitada ONG Transparência Internacional divulgou ontem, em Berlim, na Alemanha, seu relatório anual contendo o ranking dos níveis de corrupção no setor público de 180 países. O Brasil melhorou de posição, passando do vergonhoso 75º lugar para o não menos desabonador 69º. Mesmo essa alteração não reflete melhora interna alguma, pois se deve à piora no desempenho de outros países. De fato, no critério de pontuação adotado pela entidade, que vai de zero a 10, na percepção de que os servidores públicos são mais ou menos corruptos, o Brasil manteve a mesma e péssima nota de 3,7. Essa percepção é medida a partir de avaliações de fundações, ONGs, centros de estudos e bancos de desenvolvimento. 

Para ter uma ideia da distância que ainda nos separa do mundo realmente desenvolvido, as três primeiras posições são ocupadas pela Dinamarca, Nova Zelândia e Cingapura, países que têm pontuação de 9,3, indicando onde a percepção do nível de corrupção no setor público é quase nula. Na mesma posição do Brasil estão Cuba, Montenegro e Romênia. O Chile, em 21º lugar e pontuação de 7,2, e o Uruguai, em 24º e nota 6,9, são os únicos países bem avaliados na América do Sul. O Brasil ganha da Argentina (105º) e da Venezuela (164º). No mundo, os últimos colocados são Iraque, Afeganistão e Somália, com notas que vão de 1,5 a 1,1 ponto. Ou seja, o Brasil está muito mais perto dos piores do que dos melhores. Nota-se que os Estados Unidos caíram da 19ª para a 22ª posição, em razão de escândalos financeiros, como a do bilionário Bernard Madoff. A diferença é que Madoff já foi condenado e está preso. No Brasil, já passa da hora de aperfeiçoarmos os processos de investigação, julgamento e punição aos corruptos de toda ordem. Trabalho de todos, esse esforço terá mais sucesso se começar com o principal mandatário escolhido democraticamente pelo povo.

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