segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Também podemos escrever certo



JORNAL DO BRASIL (0nline)
22/10/2010

AINDA QUE DE MODO enviesado, é possível que a Conferência de Nagoia, que trata do futuro da biodiversidade do planeta, tenha encontrado uma luz para mudar o caminho da humanidade rumo a um futuro sombrio. Trata-se de um estudo da ONU que tenta mostrar qual é o prejuízo concreto, leia-se, em dinheiro, que o homem tem com a destruição da natureza.

O detalhamento do estudo é tal que calcula qual é o preço do serviço feito pelos insetos que polinizam as plantas, caso tivéssemos de pagar por isso. E o quanto deixar-se-á de arrecadar a cada espécie desses pequenos animais que deixe de existir.

Os mais céticos verão os estudos como uma bobagem, já que, de fato, fica difícil imaginar como é feito esse tipo de cálculo ou como se pode pensar em pagar a seres da natureza, na medida em que o próprio homem também é um integrante dela. Qual seria o próximo passo, quantificar o custo de todos os bovinos e galináceos que já foram sacrificados para alimentar o homem? Mas é nesse verbo, quantificar que está o segredo que pode tirar o carro humano da rota do abismo.

Durante décadas os biólogos, cientistas e ecologistas gastaram a garganta tentando mostrar aos homens de negócios a necessidade imperiosa de preservar a vida no planeta. Ninguém deu a menor bola. Agora, resolveu-se falar uma linguagem que os empresários entendem: lucro, prejuízo, dinheiro.

Quando a ONU no estudo escrito por economistas, habituados a quantificar commodities estima em até US$ 4,5 trilhões o prejuízo anual causado pela devastação da diversidade biológica do planeta (o equivalente a jogar no lixo todo o PIB do Japão, o segundo maior do mundo), o dono da fábrica poluidora terá mais chances de acender o alerta e tomar uma providência para estancar essa sangria de dinheiro (que, na verdade, é a sangria da natureza).

Os religiosos costumam afirmar que Deus escreve certo por linhas tortas. O estudo da ONU, por mais inverossímil que possa parecer, pode estar reescrevendo por linhas tortas o destino mais certo para o futuro da humanidade.

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