A economia brasileira era tida anos atrás como uma das mais fechadas do mundo. Hoje está entre as mais abertas, pelo menos entre os países emergentes, tanto sob o aspecto de entrada e saída de capitais como sob o ponto de vista comercial. Disso têm-se aproveitado investidores para auferir lucros rápidos com aplicações em papéis brasileiros, com remuneração generosa, dificilmente encontrada em outros mercados.
Mas também entram no País vultosos capitais destinados a investimentos produtivos que complementam a baixa poupança interna.
Estudo realizado pelo professor Antonio Corrêa de Lacerda, da PUC-SP, com base em dados da Unctad, revela que o estoque de capital produtivo investido no País é o maior dos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) em relação ao Produto Interno Bruto. O levantamento, revela que o estoque de investimentos estrangeiros diretos (IED) no Brasil até o fim do ano passado corresponde a 25% do PIB, participação superior à verificada na Rússia (21%), Índia (13%) e China (10%). Além de aberto a capitais, o Brasil tornou-se mais aberto ao comércio.
Segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC), a tarifa média nominal de importações do Brasil, que era de nada menos de 57,5% em 1987, caiu para 13,6% em 2008. A tarifa máxima de 35%, permitida pela OMC, só é aplicável a artigos de vestuários, têxteis e automóveis.
É verdade que essa posição pode mudar rapidamente, notando-se que, em 2009, o Brasil recebeu US$ 26 bilhões de IED, enquanto US$ 98 bilhões foram dirigidos para a China. Neste ano, o total de IED para o Brasil também ficou abaixo da expectativa, não tendo ultrapassado US$ 17,14 bilhões de janeiro a agosto. Mas o Banco Central prevê um total de US$ 30 bilhões até dezembro.
A capitalização da Petrobrás, que trouxe aplicações no valor de US$ 16 bilhões, mostra que o Brasil continua atraindo investimentos. O problema é que o que o País esta perdendo em IED está recuperando com folga em investimentos em papéis domésticos e ações, que somaram US$ 26,71 bilhões de janeiro/agosto, quando as contas externas não mostravam ainda os investimentos carreados pelo aumento do capital da estatal. Esse afluxo de dólares amplia a inserção internacional do Brasil, mas traz problemas para as contas nacionais e, a médio e a longo prazos, pode ameaçar a estabilidade da economia.
Observa-se ainda que, até julho deste ano, o Brasil recebeu grande volume de investimentos para o setor de serviços e para a agroindústria e relativamente menos para a indústria manufatureira, à exceção da indústria química. Isso é natural, dado o estágio de evolução da economia, e não significa, necessariamente, que o potencial da indústria esteja sendo subestimado. O estudo do professor Lacerda mostra que mais de 400 das 500 maiores empresas multinacionais já operam no Brasil, com forte presença no setor industrial e em contínuo avanço no setor de serviços, inclusive na área financeira, e no agronegócio.
Continua sendo baixa a participação das exportações brasileiras no total do comércio mundial (1,2% em 2009). As vendas externas brasileiras têm permanecido em torno dessa faixa há anos e, apesar dos bons preços obtidos pelas commodities, não devem avançar muito enquanto a demanda doméstica se mantiver tão aquecida. Constata-se, aliás, que as multinacionais que aqui se instalaram vieram justamente para aproveitar oportunidades surgidas no mercado interno, que já eram grandes e que se ampliam com a incorporação de milhões de consumidores das classes de menor renda. Sem dúvida, as vendas externas são ainda prejudicadas pelas deficiências em infraestrutura, pela carga tributária, a burocracia e outros fatores que compõem o custo-Brasil.
Há ainda a notar que, com a exceção de poucos setores, como o automotivo, não tiveram êxito as iniciativas de multinacionais de transformar o Brasil em plataforma de exportação para países vizinhos. Isso não depende apenas do câmbio, mas da profunda e completa integração do Mercosul, o que ainda está muito longe de acontecer.
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