O Estado de S. Paulo - 26/10/2010
Embora a União e os governos estaduais tenham ampliado em 45% a oferta de vagas nos cursos superiores de tecnologia, as chamadas Fatecs, os tecnólogos que neles se formam estão enfrentando dificuldades para ser contratados por órgãos da administração pública direta, empresas estatais e sociedades de economia mista - como a Petrobrás, Caixa Econômica Federal, Companhia do Metropolitano de São Paulo e Empresa Municipal de Transportes Urbanos.
O problema não é de mérito, pois as avaliações mostram que esses cursos estão entre os melhores do País e seus alunos são muito bem preparados para o mercado profissional. O problema é de caráter administrativo e legal, uma vez que os editais de concurso público exigem o título de bacharel e os profissionais formados pelas Fatecs são considerados técnicos de grau médio.
Segundo o Censo da Educação Superior, os alunos em "graduação tecnológica" já representam cerca de 10% do total de estudantes do ensino superior. Em 2008, 464.108 alunos estavam matriculados em cursos superiores de tecnologia, com duração menor do que os cursos universitários tradicionais. Eles também têm um enfoque mais prático e contam com currículos especializados, para atender a áreas específicas do mercado de trabalho.
Só no Estado de São Paulo foram formados 3,8 mil alunos em 2009, ante 3 mil, em 2008, e 1,5 mil, em 2007. A rede federal também está em expansão. Este ano, ela ofereceu 37 mil vagas - em 2007, foram 11,9 mil. Esses números devem crescer em 2011, pois foram criadas mais quatro "graduações tecnológicas" - como Processos Químicos, por exemplo.
Os formandos dos cursos superiores tecnológicos podem entrar num curso de pós-graduação estrito senso, para fazer o mestrado ou o doutorado. Mas, como a administração pública não atualizou os critérios e exigências dos processos de seleção, eles não podem disputar concurso para trabalhar nas áreas em que se especializaram. Para os pedagogos, essa contradição decorre de dois fatores. O primeiro é a morosidade das mudanças no âmbito da máquina governamental, uma vez que os burocratas insistem em levar em conta as diferenças de carga horária entre as graduações convencionais e as graduações tecnológicas, em vez de comparar currículos e propostas pedagógicas. Ou seja, considera-se que um curso técnico tem menos valor do que um curso convencional - e isso não é verdade, diz Marcus Soares, professor do Instituto Insper. "É preciso mudar práticas institucionalizadas e fazer uma análise de mercado e dos cursos", completa a professora Anna Scofano, da FGV.
O segundo fator é de natureza corporativa. Determinados conselhos profissionais e órgãos de classe não querem abrir mão da reserva de mercado para seus filiados. "Toda nova profissão tem dificuldade em se estabelecer. Isso vai melhorar com a ocupação dos espaços corporativos pelos tecnólogos", diz Angelo Cortelazzo, coordenador do Centro Paula Souza, que coordena as Fatecs em São Paulo. "Em 2005, consegui uma liminar que autorizou a assinar projetos na minha área. Apesar da discriminação, recomendo plenamente a graduação tecnológica", afirma o tecnólogo em instalações hidráulicas Eduardo Radaelli, que precisou recorrer à Justiça para obter registro profissional no Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea) de São Paulo. "A empregabilidade dos formados pelos cursos de tecnologia é alta, mas a questão é o tipo de responsabilidade que nos deixam assumir. Um tecnólogo está apto em sua área de formação, mas nem sempre isso é reconhecido", reclama o presidente do Sindicato dos Tecnólogos de São Paulo, Décio Moreira.
As autoridades reconhecem que, além de ter ampliado o acesso a uma educação de qualidade, os cursos de tecnologia são decisivos para evitar o risco de "apagão de mão obra especializada". Por isso, não faz sentido que os governos estaduais e federal expandam esses cursos, por um lado, e impeçam os formandos de disputar concursos públicos, por outro.
.
Sou Luis Marcos, criador e administrador do blog O Gestor - TI e Gestão de Negócios e graduando em Tecnologia em Gestão da Tecnologia da Informação.
ResponderExcluirAcho isso um absurdo, um preconceito sem fundamento e precisa ser resolvido o mais rápido possível pelas entidades competentes. Os presidenciáveis pensam o que sobre isto?