SÃO PAULO - Ao lado de José Arthur Giannotti, Marilena Chaui foi, talvez, a figura que mais decisivamente contribuiu para fazer a ponte entre o pensamento filosófico e o debate público no país. Esse encontro se deu na imprensa, animado pela resistência à ditadura.
No início dos anos 80, Chaui se tornou a grande ideóloga do PT. Dizia que democracia significava criação permanente de direitos e reinvenção incessante da política -ideias que havia emprestado do francês Claude Lefort, crítico precoce do totalitarismo de esquerda.
Mas isso é história. Chaui há muito virou as costas à discussão pública. Passou a falar para dentro, reiterando para a militância o que ela quer ouvir. Expiando a culpa dos companheiros, tornou-se a ideóloga do petismo realmente existente.
Na última semana, num ato de apoio a Dilma com artistas, Chaui explicou ao "Terra Magazine" por que eventos como aquele tinham escasseado: "Fazia tempo que a gente não tinha que gritar contra nada". Eis a ideóloga no seu pior papel, saindo da toca para chancelar não os êxitos do governo, mas os abusos, a máquina de corrupção, o patrimonialismo. Gritar por quê?
Chaui está entre os que dizem que o mensalão foi invenção da imprensa. Usa a crítica à mídia para se dispensar de examinar criticamente o PT. É um exemplo de embotamento sob o verniz da radicalidade.
É claro que a mídia deve ser criticada. A demissão da psicanalista Maria Rita Kehl do jornal "O Estado de S. Paulo" é deplorável sob qualquer aspecto. Há, sim, um antipetismo baixo e sensacionalista na praça. Mas há também uma "mídia do B", triunfalista e chapa branca, em parte alimentada com dinheiro público. E Erenice Guerra (fiquemos nesse exemplo doméstico) não é uma armação de golpistas.
Essa é uma discussão que requer honestidade intelectual e disposição para o confronto. Chaui optou pela tutela do partido. Está mais perto da pregação dogmática do que da experiência do pensamento.
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No início dos anos 80, Chaui se tornou a grande ideóloga do PT. Dizia que democracia significava criação permanente de direitos e reinvenção incessante da política -ideias que havia emprestado do francês Claude Lefort, crítico precoce do totalitarismo de esquerda.
Mas isso é história. Chaui há muito virou as costas à discussão pública. Passou a falar para dentro, reiterando para a militância o que ela quer ouvir. Expiando a culpa dos companheiros, tornou-se a ideóloga do petismo realmente existente.
Na última semana, num ato de apoio a Dilma com artistas, Chaui explicou ao "Terra Magazine" por que eventos como aquele tinham escasseado: "Fazia tempo que a gente não tinha que gritar contra nada". Eis a ideóloga no seu pior papel, saindo da toca para chancelar não os êxitos do governo, mas os abusos, a máquina de corrupção, o patrimonialismo. Gritar por quê?
Chaui está entre os que dizem que o mensalão foi invenção da imprensa. Usa a crítica à mídia para se dispensar de examinar criticamente o PT. É um exemplo de embotamento sob o verniz da radicalidade.
É claro que a mídia deve ser criticada. A demissão da psicanalista Maria Rita Kehl do jornal "O Estado de S. Paulo" é deplorável sob qualquer aspecto. Há, sim, um antipetismo baixo e sensacionalista na praça. Mas há também uma "mídia do B", triunfalista e chapa branca, em parte alimentada com dinheiro público. E Erenice Guerra (fiquemos nesse exemplo doméstico) não é uma armação de golpistas.
Essa é uma discussão que requer honestidade intelectual e disposição para o confronto. Chaui optou pela tutela do partido. Está mais perto da pregação dogmática do que da experiência do pensamento.
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