segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Agruras pessoais

DANUZA LEÃO - FOLHA DE SÃO PAULO


Sei que existem pessoas com problemas mais graves do que o meu, mas sempre há um começo

ELEIÇÃO É ÓTIMO, mas quatro semanas entre o primeiro e o segundo turno é tempo demais. Apesar de não conseguir pensar em outra coisa, tive minha atenção desviada hoje por dois probleminhas teoricamente banais, mas que estão me levando à loucura.
Recebi duas cartas que me tiraram do prumo. A primeira veio da Receita Federal, querendo que eu explique detalhes da minha declaração de renda de 1996. Positivamente, não dá. Pago meus impostos em dia, levo minha vida absolutamente dentro das leis, mas ter que explicar detalhes de meus rendimentos em 1996 é acima da capacidade de qualquer ser humano. Só chorando.
Agora, a segunda carta, da Oi, mas antes vou explicar: já tive um celular e desisti dele há mais de um ano. Agora tenho dois telefones fixos e minhas contas de telefone são pagas em débito automático.
Pois a segunda carta era da Oi, cobrando quatro contas de um telefone móvel que não tenho, supostamente não pagas, que somadas vão a R$ 800. Você já tentou reclamar qualquer coisa de uma operadora de telefone? Então, considere-se uma pessoa feliz. São gravações e mais gravações, em que sua atendente "virtual", com muita competência, leva qualquer um às raias da loucura.
Esta manhã, tomei um tranquilizante e fui à luta. Luta essa que roubou 67 preciosos minutos de minha vida. Consegui, com muita paciência, obter duas informações: a primeira, é que antes de qualquer coisa eu deveria ir ao banco e pagar as quatro contas de um celular que não é meu; para isso, seria preciso anotar o número do código de barras de cada uma. Peguei uma caneta e anotei o de uma delas: vou contar, e não pensem que estou mentindo. O número é 8461 000000 1301 2601 1324 2178 7063 0027 4709 6777 00000 9. Esse é o número de uma das contas, e são quatro, que tal?
Segunda informação: nada poderá ser ao menos discutido antes que as contas sejam pagas. E, se não pagar, estou ameaçada - por escrito - de cortarem meus telefones e meu nome ir para o SPC, Serasa, e "outros", que tal de novo?
Só chorando.
Não quero pagar R$ 800 que não devo, e só poder discutir depois; não tenho forças nem físicas nem psicológicas para ir ao Procon; e odeio a Oi. O que faço? Contrato um advogado? Vai custar mais caro do que pagar as contas, e esse não será o fim da novela. Corto os pulsos? Me atiro pela janela ou jogo um saco cheio da superbactéria na sala da diretoria da Oi?
Sei que existem pessoas com problemas muito mais graves do que o meu, mas por mais difíceis que sejam os caminhos, sempre há um começo - e aí, de alguma maneira, eles serão resolvidos. Mas não acredito que se pagar vou ter sossego, pois as contas vão continuar chegando; e como explicar à Receita meus rendimentos em 1996, se não sei do paradeiro da contadora que cuidava dos meus papéis em 96?
Estou inclinada a metralhar os responsáveis pela Oi, mas tenho medo de chegar na sede da companhia, ser atendida por um robô daqueles inflados, e que da sua boca saia mais uma gravação que vai fazer com que eu perca para sempre meu juízo.
PS: O país está uma bagunça generalizada. Desde que Lula entrou em campanha feroz para eleger Dilma, desrespeitando todas as leis, o Brasil está à deriva.
E ainda não foi tomado o depoimento de Erenice (só depois do segundo turno).

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